Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Que Mané Freud!

A repórter Rachel Lima descobriu que a prefeitura da dona Izalene (ela diz que manda no Jequitibás e o PC do B, nos funcionários) gasta R$ 100 mil por dia com a coleta de lixo. De fato: em qualquer cidade, limpar é um dos serviços mais caros (e sujar uma das práticas mais baratas, tão baratas que o lixo está cheio delas). Nada mais verdadeiro do que um cartaz que vi pela primeira vez em Araras, tem mais de quarent’anos: “Cidade limpa não é a que varre mais, mas a que suja menos”. E não adianta culpar só a coitada da prefeita. Numa reportagem sobre sujeira urbana, ao se ouvir o “outro lado”, o bom-senso manda conversar, também, com os porcos que moram na cidade.

Na ditadura, do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, “Ninguém segura este País”, a tchurma do general Médici inventou a campanha da limpeza, comandada por um boneco, o ‘Sugismundo’. (Interessante: nos desenhos em que o boneco perseguia os porcos, a cidade retratada nunca era Brasília, embora ela seja, até hoje, a cidade mais suja do Brasil. Talvez naqueles tempos de torturadores, tanto quanto.) Como? Não minha senhora, não estamos falando do Sugismundo Freud. (Desculpe-me dona Izalene, é aquela sua amiga anônima que pega no meu pé quando falo da senhora…).

Aí, fiz uma reportagem para saber se a campanha dos militares contra a sujeira estava dando certo. (Cá entre nos, estava nada.). Entrei na cantina da Puccamp (naquele tempo só a gloriosa Universidade Católica de Campinas) do saudoso Herrera (Você se lembra dele? Eu também.). O Herrera me chamou para aquele canto dos fundos, que dava para o fim do Pátio dos Leões e disse bem baixinho:

— Fique de olho no balcão e no chão. Em menos de meia hora, você vai ver que as moças sujam bem mais do que os rapazes!

Verdade. Parecia de propósito: elas nem olhavam para os cestos de lixo encostados no balcão. E o chão ficava cheio de guardanapos de papel; embalagem de Corneto da Gelato (aquele sorvete que crescia na mão e só as meninas tomavam…); migalhas de pão; palitos com restos de coxinha grudados; canudo (tiravam da garrafa e jogavam no chão!); papel celofane vermelho do bombom Sonho de Valsa; papel metálico azul do Bis… Chega, que isto já está uma imundície!

Pensei: se eu jogar essa observação só nas costas do bom Herrera, amanhã, as garotas empastelam a cantina da escola do doutor Barreto (tudo bem, Magnífico?). Fui atrás dos mestres da Psicologia. Surpresa! Não estranharam a conduta das moças! Um deles (será que era machista?) insinuou: “A mulher está condicionada a ser escrava do lar. No inconsciente, a sensação é a de que não tem importância ela sujar, porque sabe que ela mesma vai limpar depois…”

Puts! Quase que o empastelado fui eu!

Pregado no poste: “O senhor é candidato a prefeito, dom Gilberto!?!?”

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