Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Alegria, alegria

Já que não tem jeito, o jeito é levar com jeito e bom-humor. Pessoal lá de casa tinha mania de guardar direitinho notícias curiosas que saíam nos jornais. Há uma coleção completa de reportagens aqui do “Correio”, sobre os tipos populares de Campinas, publicada em 1955. Outra é a história de um fotógrafo que usava um filtro na máquina capaz de “eliminar” as roupas das pessoas – era um Deus nos acuda. Ele “fez” a atriz Kim Novak em Viracopos e narrava tudo o que via. Só que a Novak sabia falar português…

Mas, apropriada para um dia como hoje, é a coletânea de notícias com títulos curiosos. Em todas, o protagonista foi para o beleléu. Quer ver?

Correu menos que o touro

Caiu do bonde

Dormiu no volante

Não eram balas de festim

“A bolsa ou a vida!” – mas vítima não falava português

Trancaram a saída de emergência

O pára-quedas não abriu

Trocaram o Lulu por uma jaguatirica

O vento apagou a chama do fogão

O elevador não estava lá

O leão não era manso

O marido estava em casa

Num dia de Finados, mandei um repórter ver a romaria aos túmulos dos  defuntos milagreiros do cemitério da Consolação, e ele viu uma cena digna de Fellini. A caráter, com elmos, penachos e capas coloridas, soldados italianos veteranos da Primeira (!) Guerra, “Alpini” e “Bersaglieri”, inimigos furiosos, celebravam seus mortos. Não, os corpos não tinham sido trasladados para o ‘Brasile’. Um deles, altivo aos 87 anos, explicou: “Embarcamos na Estação da Luz em dois de novembro de 1915, para pegar a ‘nave’ na Santos. ‘Ma’ cominciamo a brigar ainda na plataforma da ‘stazione’ e ‘cinque’ morreram – ‘due’ nostro e ‘tre’ deles.” Para eles, a guerra começou ainda no Brasil. Mas naquele dia, terminou numa imensa galinhada com polenta numa chácara em Valinhos. Em paz – uma raridade em festa de italianos briguentos.

Por fim, sabe aquela história do “gato subiu no telhado”? Pois é. Antigamente, quem morava na roça pedia aos parentes de outros estados que mandassem as cartas da família para algum armazém do Mercadão. E foi por isso que o Cadão, filho do nosso estimado Antônio Cecconi, atendeu um homem que entrou no armazém atrás das cartas vindas de uma cidade mineira. Analfabeto, pediu ao Cadão que as lesse. Foi patético: “Sua mãe piorou”. “Internamos sua mãe ontem”. “O médico acha difícil ela sarar.” Você já deve imaginar o que dizia a última carta da tia daquele homem. Verdade.

Pregado no poste: “Dona Izalene, porque Campinas não apareceu na campanha do PT?”

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