Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Triste fim

Não adianta Coca-Cola e Antarctica brigarem para ver quem faz o pior guaraná ou o melhor anúncio. No fim, o consumidor sabe o que faz com a latinha. Alguns lamentam: “Pena que não aceitem em exames de laboratório…” A maior parte vai para o lixo, depois sai de lá pelas mãos de catadores que alimentam a indústria da reciclagem.

Os fabricantes investem milhões na melhor embalagem, na marca mais atraente. Em seguida, a gente vê essas embalagens expondo as marcas nos lugares mais comprometedores. Como saborear um lanche do McDonald’s, depois de ver aquela caixinha vermelha revirada por ratos na valeta da Orosimbo Maia?

Acontece com nós mesmos. Dói o coração saber o que fazem com os jornais de ontem, de ante-ontem, de antanho. Na marcha cada vez mais alucinante da vida, é cada vez mais atual a definição de que “nada é mais velho do que o jornal de ontem”. Vi as portas de uma agênca bancária desativada ainda ostentando o nome do banco. Lá dentro, sujeira até o teto. Deixa a impressão de que o banco faliu. Não se canta, nem se sente mais, “se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante…”. Era o que as crianças cantavam, nas escolas, em casa e nas ruas. Hoje, até o sucesso vem enlatado. Descartável. Mas se você ainda tem coragem de andar pelas ruas da Campinas que era nossa e hoje é da dona Izelene, repare onde vão parar as marcas e as embalagens mais reluzentes.

Nem precisa ir ao centro da cidade – inacreditável, dizem que está uma favela! E veja se dá vontade de consumir aqueles produtos depois. Latas de leite em pó, potes de iogurte, latinhas de cerveja, de energéticos e de refrigerantes, frascos de Yakult, caixinhas de leite e de suco de frutas, pacotes vazios de fraldas, garrafas pet (o que é isso, heim?), aparelhos de barbear, canetas esferográficas (parte delas usada para cheirar droga), caixas de sabão em pó, isqueiros… E muitas, muitas camisinhas. Numa quantidade que assusta. Não porque usem muito, mas porque não se vê uma embalagem de camisinha jogada na rua. Será que usam a embalagem e jogam o conteúdo fora?

Uma reportagem tem sempre de ouvir o “outro lado”. Nessa do lixo nas ruas, o “outro lado” não é só a Prefeitura porca, mas o povo que suja. E uma curiosidade: o que os fabricantes acham de ver suas marcas degeneradas pelo descarte a céu aberto?

Pregado no poste: “Cartaz de propaganda eleitoral é lixo?”

18/08/2001

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