Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Colarinho organizado

Sempre ouvi dizer, até na igreja, que as prostitutas têm a profissão mais antiga do mundo. Pode ser. Então, a de camelô deve ser a segunda. A primeira, pelo menos, é mais simpática. Tanto que Jesus Cristo não condenou Madalena, mas expulsou os vendilhões do templo. Assim, desde aquele tempo…

Eles vendem mercadorias ilícitas, como CDs piratas; não dão nota fiscal, nem garantia da qualidade do que vendem; ocupam espaço público sem pagar imposto territorial; não pagam imposto algum, portanto sonegam; sitiam e ameaçam, até com violência, os concorrentes que exercem atividades lícitas, dão garantia de seus produtos, emitem nota fiscal e pagam impostos. E ainda têm o respaldo e o apoio explícito e implícito dos ocupantes do Palácio dos Jedquitibás. As SS de Adolf Hitler não fariam pior contra os comerciantes judeus, por exemplo, na Berlim dos anos 30, depois que o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores, do Führer, tomou o poder.

Quando a fiscalização apreendeu onze mil discos piratas que eles tentavam vender a consumidores incautos e também espertalhões, armaram manifestação que fechou a mais tradicional rua do comércio da cidade. E exigiram que lojistas legalmente estabelecidos fechassem suas portas, alegando que a intenção dos comerciantes é compará-los ao crime organizado.

Se eles também vendem drogas ninguém sabe. Se não vendem, podem não ter vínculo com o crime organizado, mas vender mercadoria pirata e sonegar impostos é crime do colarinho branco. Se hoje reivindicam vender mercadoria ilícita, quem garante que amanhã não reclamarão o direito de vender outros produtos ilegais?

Só o fato de não pagarem impostos mostra a má índole desse “negócio”. Má índole de maus políticos, que jamais ousaram propôr que camelôs paguem impostos e tenham a mesma responsabilidade social dos demais cidadãos – empresários ou não. Má índole deles também, que não se preocupam com o que o poder público faz com os impostos em benefício da sociedade. E má índole das autoridades, que assistem a tudo, omissas, diante de uma manifestação que defende o direito de se cometer um crime contra o povo. Quantos votos rendem os camelôs? Quem fatura às custas do povo e não paga impostos não presta pra nada. É inútil à comunidade.

Pregado no poste: Chega! Dona Izalene, boa viagem. E leve sua turma.

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