Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Avante, Ponte Preta!

O beijo e o abraço mais emocionados dos últimos tempos eu ganhei da Mariinha. Foi na festa do Culto à Ciência, lá no ginásio da Unicamp. Deus ficou com inveja de mim e recebeu nossa querida mestra com um beijo e um abraço, lá no Céu, semana passada. O Senhor também gosta dela, não? Nós não gostávamos, nós adorávamos a Mariinha. Bendita hora em que o Senhor colocou essa professora em nossos caminhos, naquela escola mágica. Ela nunca se esqueceu de nenhum de nós — caso de amor recíproco, à primeira vista, à primeira nota, ao primeiro acorde. Como ela gostava da gente!
Um dia, Mariinha me ligou na redação do Estadão, indignada: “Essa ditadura safada roubou o hino da Ponte!”. Roubou, mesmo. Lembra daquela porcaria: “Este é um pais que vai pra frente, ô, ô, ô, ô, ô…”? É a mesma melodia de “Avante, Ponte Preta, avante…”. A censura impediu que denunciássemos o crime, provavelmente cometido por um coronelzinho que havia passado pela Escola de Cadetes, quando a Mariinha ganhou o concurso para o hino da “Macaca”. Aquele mesmo coronelzinho já estava, na época do roubo, no comando da insuportável Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República, a mesma que disseminou aquele lixo. No Estadão, a notícia virou poema de Camões.
Sensibilidade à flor da alma. Uma vez, o José Roberto Piantoni saía de um restaurante em Campinas, acompanhado da esposa. E ouviu uma exclamação emocionada: “Êpa! Aqui tem ex-aluno do Culto à Ciência!”. Era ela! Quase cega, reconheceu o ex-aluno de 30 anos atrás pela voz! Pela voz!
Mariinha, professora querida, a música de nosso tempo, a música da nossa escola. Aproveite que a senhora está no Céu e pergunte a Deus se Ele é, mesmo, brasileiro. Se for, faça-o cantar e declamar o Hino Nacional, como a senhora nos ensinava. Quem sabe, este País melhora. Afinal, agora que a senhora foi para o Céu, Deus está mais contente. Um beijo e muito obrigado, em nome de todos nós daquele templo cheio de sua graça.
Pregado no poste: “O professor é o construtor anônimo de uma nação”

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