Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

No mesmo lugar

Xico Sapo é um herói, herói sem caráter, como Macunaíma, de Mário de Andrade, o Canalha, do Chico Anysio, ou Beto Rockfeller, do Bráulio Pedroso. Como aquele personagem de carne e osso, que você conhece tão bem, mas não tem coragem de apresentar a ninguém. Assim é o Xico Sapo, “Batráquio”, para os íntimos. Quando era solteiro, morava, se não me engano, perto do Mercadão, aí na Rua Jorge Miranda. Vivia numa sorveteria de uma família japonesa, na Marechal Deodoro, já na frente do Mercadão. (Sorveteria, modo de dizer. Aquilo era um botequim sujo como a boca do Xico, com uma geladeira da Kibon na porta.)
Casou bem; saiu daquela vida incerta. Casou-se com a Amália, que bem poderia ser chamada de Amélia. Afinal, ela tirou o Xico da beira do precipício e fez dele alguém com dignidade e vontade de trabalhar. Ela, psicóloga, filha do dono de uma pequena transportadora. “Em terra de Irmãos Vieira, é impossível crescer mais. São muito competentes”, dizia o pai da Amália. Não sei se ela se formou na Puccamp. Era especializada em tratar da cabeça de presidiários. Talvez, por isso…
Filhos, sim. Tiveram três, todos três antônimos do pai, sinônimos da mãe. Os amigos do Xico, amigos dos tempos de solto e solteiro, não acreditavam como ele podia aprontar tanto e Amália não perceber – ou fingir. Quando estive com eles pela última vez, e lá se vão quase quinze anos, Xico tocava um açougue lá pras bandas do cemitério. E Amália, no consultório. Veio me contar sua última aventura e orgulhar-se da forma como se safara.
Fim de noite, passeava de carro com uma amiga (Amiga, né Xico?), quando, na esquina da Barão de Itapura com José Paulino (esse lugar ainda existe?), cruzou com um casal de amigos dele e Amália. Trocaram saudações rápidas. Na noite seguinte, mesmo horário, Xico pegou Amália para um passeio – e ela nem estranhou o convite, que não recebia havia anos. Onze e meia em ponto, passaram pelo mesmo cruzamento.
— E daí, Xico. Você pensou que fosse encontrar de novo com seus amigos na mesma esquina?
— Ficou bobo? Se algum dia eles nos encontrarem e falarem que nos
viram “noite dessas” na Barão de Itapura com José Paulino, Amália até vai confirmar que nós passamos por lá.
Pregado no poste: “Chega de intermediários Fidel Castro para presidente, Hugo Chávez para vice e as FARC para PM”
E-mail: jequiti@zaz.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *