Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

É a mãe?

Os homens reagem à dominação das mulheres. Sei, não, mas acho bom deixar tudo por conta delas. Afinal, quem “faz” uma criança deve fazer o mundo melhor. Você já foi “chefiado” por mulheres no trabalho? É uma delícia. Já “chefiou” mulheres, também? Cá entre nós, eu prefiro: “choram” menos; questionam mais; são mais leais e menos dissimuladas; mais pontuais, responsáveis e dispostas. E menos crédulas – pelo menos como repórteres, é mais difícil enganá-las. Sabem desconfiar. Uma vez, perguntei a uma repórter: “Deu para fazer a reportagem?”. Ela: “Eu não!”.

Desde que foi lançado o manifesto do Movimento Machista Mineiro, aquele que manda trocar o carro da sua mulher por um aspirador de pó zerinho, há uma avalanche de regras e leis “ensinando” os homens a enfrentar as “feras”. O último chega ao requinte de reproduzir a primeira página do Diário Oficial da União, com uma “Emenda Constitucional nº 69”, “assinada” justamente pelo marido da d. Ruth.

São doze Artigos. O primeiro determina: “Todo desejo do marido é uma ordem”. E seguem: “Fica assegurada à mulher liberdade de expressar sua opinião, desde que o marido não seja obrigado a ouvi-la”. O Artigo 3º: “É facultado à esposa dizer a última palavra, desde que seja ‘sim senhor’ ou algo semelhante.” A Emenda reza que se a mulher trabalha, todo pagamento deve ser entregue a ele, para que, com sua inteligência peculiar, a administre. O marido terá direito a cinco noites, duas manhãs e três tardes livres, por semana, para jogar futebol, beber com os amigos “ou qualquer outra atividade exigida por sua condição de macho e predador”. Para compensar, a mulher poderá, três vezes por semana a assistir ao “Note e Anote” com a Ana Maria Braga, na TV do “bispo”, e a uma novela noturna, “se todo o labor doméstico estiver dentro dos conformes estipulados pelo marido”. Mais: “Equiparam-se a marido, para efeito desta Emenda, o namorado, o companheiro ou assemelhado, mesmo que eventual, em relação á mulher”. Quanta besteira!

Outro manifesto compara o comportamento do homem e da mulher diante do caixa automático de um banco. A versão masculina é rápida: 1. Chega ao caixa automático; 2. Entra no quiosque; 3. Insere o cartão; 4. Digita o código e 5. Pega o dinheiro, o cartão e o recibo e vai-se embora.

Já a mulher, na “mente” do autor, complica tudo: 1. Chega ao caixa; 2. Verifica a maquiagem no espelhinho; 3. Desliga o motor; 4. Põe as chaves na bolsa; 5. Vai até o quiosque; 6. Procura o cartão na bolsa; 7. Insere o cartão; 8. Procura na bolsa a embalagem do OB onde está escrito o código; 9. Digita o código; 10. Estuda as instruções por uns dois minutos; 11. Tecla “cancela”; 12. Tecla novamente o código; 13. Verifica o saldo; 14. Procura o envelope; 15. Procura uma caneta na bolsa; 16. Anota o saldo no envelope; 17. Estuda as instruções; 18. Retira o dinheiro; 19. Entra no carro; 20. Confere a maquiagem; 21. Procura as chaves; 22. Liga o carro; 23. Confere a maquiagem; 24. Sai com o carro; 25. Pára; 26. Volta de ré; 27. Sai do caro; 28. Pega o cartão e o recibo; 29. Entra no carro; 30. Põe o cartão na carteira; 31. Põe o recibo no talão de cheques; 32. Anota a retirada no talão de cheques; 33. Arruma um espaço na bolsa para a carteira e o talão; 34. Confere a maquiagem; 35. Sai com o carro; 36. Anda cinco quilômetros; 37. Solta o freio de mão.

Pregado no poste: “Quem escreveu isso se espelhou na própria mãe?”

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