Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Hoje tem marmelada

— Campinas tem prefeito?

— Tem, sim sinhô!

— E o palhaço quem é?

— O eleitor Zé Mané.

— Campinas tem remédio?

— Tem, não sinhô!

— E o Posto de Saúde pra que é?

— Pra fazê cafuné.

— Campinas tem buraco?

— Tem, sim sinhô!

— E o buraco o que é?

— Pra enterrar o povo em pé.

— Campinas tem vereador?

— Num sei, não sinhô!

— E a Câmara o que é?

— Às vezes, finge que é.

— Campinas tem polícia?

— Já vi, sim sinhô!

— E o soldado o que é?

— Parece barnabé.

— Campinas tem escolas?

— Tem, sim sinhô!

— E o professor o que é?

— O que ganha um salário de mé….

— Campinas tem segurança?

— Num tem, não sinhô.

— E a vítima quem é?

— Do rico à ralé.

— Campinas tem ônibus?

— Vi uma vez, meu sinhô!

— E aquilo o que é?

— Só roda de ré.

— Campinas tem peruas?

— Ah, isso tem, sim sinhô.

— E o perueiro o que é?

— Fazedô de banzé.

— Campinas já tem um milhão?

— De jeito maneira, sinhô!

— E o candidato perdedor o que é?

— O único que descrê do IBGE.

— Campinas tem muitos políticos?

— Onde num tem, meu sinhô?!

— A população crê neles, não é?

— Que nem São Tomé.

— Campinas tem merenda escolar?

— Quando não falta…

— E o cardápio o que é?

— Às vezes, só pão, banana e café.

— Campinas tem enchentes?

— Quer mergulhar, sinhô?

— E o socorro onde é?

— Só vai onde dá pé.

— Campinas teve El Niño?

— Teve, não sinhô!

— Como é?

— Com medo, não veio nem São José.

— Campinas tem médicos?

— Em toda a parte, sinhô!

— E a saúde do povo como é?

— Quem não pode pagar vive da fé.

— Campinas tem hospital público?

— Tem, meu sinhô!

— E o atendimento como é?

— Remédio nem pra bicho-de-pé.

— Campinas tem time de futebol?

— Tinha, sim sinhô.

— A situação deles qual é?

— Só levam olé.

— Campinas tem funcionário fantasma?

— Dá vergonha, mas tem sim sinhô.

— E esse medonho quem é?

— Um tipinho qualquer.

— Campinas tem concurso público?

— O que é isso, sinhô?

— E a vaga para quem é?

— Entra quem qué.

— Em Campinas entra quem quer?

— Exagerei. Nem sempre, sinhô.

— Então, como é?

— Só quem o padrinho quisé.

— Campinas tem árvores?

— Tinha, sim sinhô.

— Isso em volta do Castelo o que é?

— Árvores virtuais, pois é!

— E o alecrim na frente da Catedral?

— Morreu. Praga de padre, sinhô!

— E agora, o largo o que é?

— Virou o “Deserto da Sé”.

— Campinas tem banheiro público?

— E só seguir a catinga, sinhô.

— E a causa do mau cheiro qual é?

— A Prefeitura não dá nem papé..

— Campinas não tinha um gerente?

— Tinha, sim sinhô.

— E esse gerente quem é?

— O prefeito deu-lhe um pontapé.

— O prefeito não fica em Campinas?

— Ficava, meu sinhô.

— Aonde anda o maior barnabé?

— Atrás do Maluf, fazendo rapapé.

— Campinas não tinha futuro?

— Perdeu, meu sinhô!

— E o que será quando o futuro vier?

— Todo o povo vai dar no pé.

— Hoje tem marmelada?

— Não tem, não sinhô.

— A marmelada pra quando é?

— Marcaram pro 4 de outubro.

— Então inté. Eu é que vou dar no pé!

 

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