Você percebe…
… que os anos chegaram, quando:
Os amigos do seu filho começam a chamar você de “tio”.
Você descobre que aquela garota que você pensa em paquerar tem idade para ser sua filha.
As pessoas que são apresentadas a você, naturalmente, o chamam de “senhor”.
Levantar de uma cadeira é cada vez mais difícil.
Você se assusta como estão “envelhecidos” amigos que não vê há alguns anos.
Em vez de ir ao cinema, prefere alugar uma fita ou esperar que o último vencedor do “Oscar” chegue às locadoras.
Sua mulher chega em casa mais disposta do que você.
No supermercado, você só compra o que está à altura dos seus olhos, mesmo que o produto mais barato esteja na prateleira de baixo da gôndola.
Sua barriga esconde seus documentos.
Para subir uma escada, precisa usar os dois corrimões.
Troca a caminhada pelo táxi.
Faz as contas e descobre que no último baile que você esteve, o sucesso era “Aquarela do Brasil”, tocada por uma orquestra que imitava a do Glenn Müller.
Todos os grandes craques de futebol são (bem) mais novos do que você.
Já faz 35 anos que o Brasil ganhou a Palma de Ouro em Cannes e a Glória Meneses, que então parecia ter idade para ser sua mãe, hoje parece apenas sua irmã.
Falam na Eva Wilma, e a imagem que lhe vem à cabeça não é de “A Indomada”, mas do “Alô, Doçura”, ou antes ainda, do “Prelude a Dois”.
A namorada do seu filho já chama você de “sogrão”.
Encontra um amigo e a primeira pergunta dele é “está bem de saúde”? E ainda recomenda a você um exame da próstata.
Você se lembra de que seus pais achavam o Elvis Presley “barulhento” e hoje, seus filhos o consideram “muito devagar”.
As letras dos livros e dos jornais estão cada vez menores.
Teima em fazer as palavras cruzadas até o fim, nem que precise consultar uma pilha de dicionários.
Costuma se interessar por bulas de remédios.
Vai atravessar a Treze de Maio e olha para cima, para ver se o bonde vem vindo. Ou sai das Lojas Americanas, na mesma rua, e pergunta: “Ué ? Cadê o teatro ?”
Abre o jornal e vai direto à coluna de falecimentos. Se ficar muito atento à idade dos defuntos, sua preocupação com a idade já virou paranóia.
Tenta assobiar e sempre vem um acesso de tosse.
Sai de casa e olha pro céu, para ver se vem chuva. E pensa seriamente em comprar uma capa e um par de galochas.
Ou você percebe que os anos chegaram quando acontece o que aconteceu comigo, dia desses, aqui em Campo Grande. Vi uma repórter, a Débora Diniz, escrevendo uma notícia em que ela se referia ao ditador Emílio Garrastazzu Médici. É melhor reproduzir o diálogo:
— Estou ficando velho, Débora. Você não era nascida e eu fazia reportagens sobre o governo desse sanguinário. Felizmente, vivi para ver essa gente fora do poder.
— Eu não era nascida, mesmo; mas sei quem foi ele. Estudei história no colégio.
— Nossa! Esse cara já entrou para a história?!
— Para a História Antiga, né?