Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Você já viu?

(Antes de mais tudo, dada a voracidade do governo para arrancar impostos de quem trabalha e ainda ficar com o restinho que a gente ganha, olho no lance, orelhas em pé e barbas de molho. Nessa hora, lugar de dinheiro é enterrado no quintal. Afinal, poderá ser um novo governo, mas não necessariamente um governo novo.)

A repórter Teresa Costa, terror dos medíocres e fiel guardiã dos bens patrimoniais da nossa história, contou tempos atrás que depois de formar a maior corrente migratória para Campinas, os mineiros ameaçavam já ser maioria da população – exageros à parte, porque mineiro não ameaça ninguém. Ela agora desconfia de que sejam os laboriosos nordestinos. Tanto faz: arcamos com a responsabilidade de viver na cidade que todas as cidades do mundo querem ser. Não se esqueça da maldição que caiu sobre a gente das Alterosas, depois da traição de Joaquim Silvério dos Reis. Há sempre engraçadinhos a dizer que mineiro é o inventor da tocaia. Outros observam que dois cariocas fazem uma sacanagem; dois paulistas, uma fila; dois gaúchos, uma cooperativa; dois goianos, uma dupla sertaneja; dois cearenses, uma rede e dois mineiros… uma conspiração.

Diante de certas circunstâncias, nem precisa perguntar: batata, é mineiro! Desconfiado, ele demora mais de meia hora conferindo o troco. Se o trem parte às 10, às 7, ele já está estação. Não pisa no molhado, se não enxerga o chão, e se esconde da friagem. Em Caldas Novas, logo depois de Poços de Caldas, um ‘coronelão’ baixou na igreja e deixou 500 mil réis para o padre distribuir entre os que carregassem seu caixão até o templo: “Quero que o senhor me enterre aqui, se não, minha família me sepulta lá na fazenda, vende a dita cuja e me larga por lá…”

Agora, a jornalista Helba Diniz, da EPTV, chega da sua Uberaba com uma listona do que é gostoso aproveitar em Minas. Você, que veio de lá, confira e veja se dá fé nestas opções escolhidas a dedo:

Passar horas a admirar o forro da Igreja S. Francisco de Assis, em Ouro Preto. Dormir no Caraça e ver o lobo guará. Tirar uma foto com a estátua do Juquinha, na Serra do Cipó. Alugar um pé de jabuticaba em Sabará (é tão desconfiado que aluga, em vez de comprar a jabuticabeira.). Visitar as minas de água marinha em Governador Valadares (isso é trauma: como não têm mar, mineiro inventa…). Navegar no vapor Benjamim Guimarães pelo rio São Francisco. Rezar, cantar e dançar na Festa do Rosário, em Dores do Indaiá. Sentar em uma venda e ver a vida passar. Experimentar os biscoitos de São Tiago. Conhecer o monumento Menino da Porteira, em Ouro Fino. Tomar água da biquinha, em Luz.

Pelo jeito, Minas não tem mais pão de queijo nem orgulho do Pelé e do Santos Dumont.

Pregado no poste: “Ai do jornaleiro que der um mapa de Minas a quem pedir um ‘Estadão’ atrasado.”

 

 

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