Viu só?
(Dedico esta crônica a Fabiana Bonilha, a “menina dos olhos” de Campinas.)
Não fale sobre cegueira a um cego, como se fosse a pior desgraça do mundo. Ela não é contagiosa: pode deixar seu filho brincar com uma criança cega, que também gosta de brincar, pular, jogar bola, nadar, usar computador e fazer tudo o que uma criança gosta de fazer.
Ao cumprimentar seu vizinho, amigo ou colega de trabalho cego, identifique-se, pois ele não o vê. Ele dá a mão como qualquer pessoa; pode apertá-la. Se precisar afastar-se, avise-o, para evitar a desagradável situação de deixá-lo falando sozinho. Ao dirigir-se a um cego, chame-o pelo nome. Chamá-lo de cego ou ceguinho é falta de educação. Quando conversar sobre cegueira com ele, use a palavra cego sem rodeios.
O cego já pode usar Internet, ouvir rádio, ver televisão e ir ao teatro. Fale sobre atualidades com ele. Se ele perguntar, descreva a cena, a ação e não os ruídos e diálogos, pois estes ele escuta bem.
Não pense que todas as pessoas cegas são iguais, não generalize aspectos positivos e negativos de um cego estendendo-os aos outros cegos. Cada um tem sua própria maneira de ser. Pelo fato de o cego não enxergar as expressões fisionômicas e os gestos das pessoas, quando você estiver conversando com ele fale sobre seus sentimentos e emoções, para que haja um bom relacionamento.
O cego tem condições de consultar o relógio (próprio para ele), discar o telefone, assinar o nome e andar na rua sozinho, não havendo motivo para que você exclame ‘que extraordinário!’ ou ‘que maravilha!’.
Ao ajudar a pessoa cega a sentar-se, basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isto indicará sua posição, sem necessidade de segurá-la pelo braço ou rodar com ela ou até puxá-la para a cadeira, lembre-se apenas que você tem de deixar a cadeira na posição que o deficiente visual deve sentar, porque inicialmente ele ainda não sabe a posição que as outras pessoas estão no recinto.
Ao guiar um cego, basta deixá-lo segurar seu braço. O movimento do seu corpo lhe dará a orientação de que ele precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-o segui-lo, com a mão em seu ombro. Nos ônibus e escadas basta pôr-lhe a mão no corrimão.
O uso de óculos escuros para os cegos tem duas finalidades: proteção do globo ocular e estética.
Ao notar qualquer incorreção no vestuário de um cego, comunique-lhe, para que ele não se veja na situação desagradável de suscitar a piedade alheia.
Pregado o poste: “O cego não vê, mas sua alma enxerga!”