Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Visão privilegiada

Sabe qual a semelhança entre o Pelé, o Nelson Gonçalves, o Lula e eu? Fomos engraxates. O Pelé, poucos sabem, enriqueceu jogando bola; ‘Nersão’, cantando como ninguém, e o Lula, porque virou político. Continuasse engraxate ou metalúrgico, não teria saído do ABC. Aliás, ele já saiu do beabá? E do blá-blá-blá?

Comecei e encerrei a carreira aos cinco, seis anos, no jardim do Largo da Catedral desta São José do Rio Preto. À noite, na porta do Hotel Terminus, lá mesmo, engraxando os sapatos pretos dos aeromoços e comandantes da gloriosa e extinta Real Aerovias. Quando havia reunião do Rotary Clube no hotel, faturava os tubos. Uma noite, foi a glória. Sabe quem pôs os pés na minha caixinha? O ator John Herbert! Ele e a Eva Wilma se hospedaram no Terminus. Ela arriscou um trato, sentou-se no banco de ripas de madeira e pés de ferro da porta do hotel e pousou o pé esquerdo na minha caixinha. Eu não devia ter dado aquele risinho maroto. Ela se levantou de um pulo: “Nã, nã, ni na, não!”

Você já viu mulher sentada em cadeira de engraxate? De saia ou vestido é impossível esconder as coisas; e a visão do engraxate, falo de cadeira, é privilegiada.

Carreira curta, divertida e nada lucrativa. Minha mãe, que me acompanhava no ‘trabalho’, pensando que eu estivesse só brincando, me fazia dar aos outros engraxates o que eu ganhava – “para não tirar o trabalho de quem precisa.”. Será que o Lula foi engraxate em Rio Preto?

Pregado no poste: “Sei, não… Acho que Nossa Senhora se mandou”

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