Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

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Pronto. No domingo, conversamos aqui sobre o presente para o Dia dos Pais. Agora, é chegada a hora de os senhores pais retribuirem com um presente absolutamente necessário para os filhos com mais de doze anos. Principalmente nestes tempos atrasados e de troca de ódios que vivemos entre os que buscam o Poder. Reuna a família, todos os amigos de sua família e os filhos deles todos para assistir a um filme alemão feito em 2008 e que já deve estar nas locadoras: “O grupo Baader – Meinhof”.

É fundamental ver, ainda que via Youtube, “La Banda Baader Meinhof”, em espanhol — documentário insuspeito do History Channel, baseado em depoimentos de parentes dos bandidos, de autoridades, historiadores e noticiários televisivos da época, documentos, cartas, panfletos, e no minimanual da guerrilha urbana de Carlos Marighella, classificado pelos autores do documentário como “importantíssimo para o sucesso das ações” genocidas.

Da obra cinematográfica impecável e imparcial, merece atenção especial o desempenho da atriz Martina Gedeck no papel da jornalista e editora Ulrike Meinhof. Perfeita. É a reencarnação da mulher que foi o cérebro e condutora intelectual que conseguiu, com sua panfletagem, atrair para a quadrilha a simpatia de jovens, mesmo tendo assassinado 34 pessoas em atentados e tiroteios contra órgãos públicos, redações de jornais, aviões, embaixadas e em seqüestros. Compare as fotos do julgamento dos psicopatas e a expressão de deboche contra a vida humana, sempre sorrindo para o povo após cada atrocidade cometida. Os atores arrasam.

Fique atento ao conteúdo dos textos de Ulrike Meinhof: brilhantes, objetivos, sem brechas para argumentos contrários. Ela é capaz de convencer o mais perspicaz observador do cinismo humano de que cada membro do seu bando matou inocentes em legítima defesa e pelo bem estar da sociedade. Perto dela, Fernando Gabeira, logo reconhecido à época pela carta com exigências para libertar o embaixador americano Charles Elbrick, é um rematado analfabeto.

Nenhum ator ou atriz foi escolhido por ser estrela de Hollywood, celebridade ou pelo carisma e beleza. Mas exclusivamente pelo talento e pela semelhança física com os personagens. Queriam Robbie Williams no papel de Andreas Baader, mas o diretor Uli Edel é sério — o fundador do grupo é vivido por um sósia, Moritz Bleibtreu. A executora da violência e ‘dona’ de Baader, Gudrum Ensslin, é Johanna Wokalek.

Todos se mataram, embora Ulrike Meinhof tenha escrito que o suicídio deles fora obra da polícia.

Assista até o fim, mesmo, e que todos guardem para sempre a frase de Gudrum ao ser levada para a cela onde se matou: “NÃO VEJA OS TERRORISTAS COMO ELES NUNCA FORAM”

Pregado no poste: “Entendeu?”

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