Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Vermelho doente?

Banheiro público em Campinas, só ao lado do Mercadão. Uma vergonha. Fedia que Deus mandava. Mais que os das rodoviárias, botequins, campos de futebol e salão de festa no fim da festa. O banheiro do Brinco não é um brinco e o do Majestoso, nem a macaca agüenta. Esses lugares NUNCA têm papel higiênico. E jornal, eu me recuso!

Já parou para observar a cara de quem está apertado? A pessoa parece que não está neste mundo. Uma vez, um doido varrido inventou de comer um bolinho de bacalhau na beira da estrada a caminho de Salvador, perto das bandas de Teófilo Otoni. Mas não deu meia hora de viagem e o coitado parecia morto há dez dias. Foi a única vez que vi alguém verde. Partiu para o banheiro de ônibus e o barulho era tão vergonhosamente ensurdecedor que a mulher foi atrás ver o que acontecia.

Vixe! Por onde o ônibus passava, bandos de jegues fugiam. A mulher não suportou e saiu esbaforida: “Assim, não agüento! Ele senta pra fazer e levanta para fazer com a boca! Deus misericordioso!”

O motorista parou na primeira corrutela e mandou lavar e desinfetar tudo. Devia queimar.

Em ônibus, o drama é maior, sempre. O Cláudio, vulgo Vermelho, e o Francisco Augusto, vulgo Chicuto, iam de Lins para Araçatuba num cata-coió, com escalas em Penápolis, Não Sei Onde, Judocudas e Birigüi (sem acento, porque lá ninguém senta). Viagem acontecida logo depois de um churrasco. A vontade bateu forte no Vermelho – tão forte que ele ficou amarelo. Perto de Penápolis, passou. “Em Não Sei Onde, eu vou”, calculou. Cruz credo! Veio de novo, com força de esquentar a cabeça. O ônibus encostou na plataforma e tudo passou. Alívio enganador. Partiram.

Foi em Judocudas. Quando estava perto da estação, Vermelho já estava roxo-escuro segurando o balaústre na frente da porta. E disse para Chicuto, que o escoltava: “Você me leva um ‘Estadão’ de domingo, porque um fardo de papel higiênico não dá conta.”. Qual o quê! No meio do caminho, viu pelas costas a calça verde do Vermelho já escurecida pela umidade. Quando Chicuto achou aquele monte de jornais e entrou no banheiro da rodoviária, Vermelho já estava mais vermelho de vergonha do que a bandeira do PT depois do ‘mensalão’ – pelado, lavava a cueca na pia. A calça respingava na porta da privada.

Um senhor perguntou a Chicuto: “Ele é doente das idéias?”

Pregado no poste: “O PT não fez na entrada, mas fez na saída”

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