Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Veja quem virou santo

No Brasil, o nome de quase todo mundo homenageia um santo (ou uma santa, claro – Santo Antônio e Santa Teresinha são os preferidos.). Ruas, praças, avenidas, bairros, cidades, sítios, chácaras, fazendas, rodovias, bares, hotéis, restaurantes, cinemas, lojas, usinas, fábricas, presídios, e, se bobear, até boate, motel e bordel… Cachaça, comida, remédio, automóveis, plantas, quase tudo mesmo. Mas faltava alguma coisa neste Brasilzão que virou santo — e só um repórter com o faro e o texto esplendoroso do Sérgio Coelho (figuraça de gente boa demais da conta) para descobrir. Leia só a historinha que ele conta pra nóis:

“Em Tietê, o historiador Benedito Pires de Almeida (Zico Pires), filho de sitiante que passou a infância na zona rural, conta que ouviu a história do Juda que virou santo em 1918, e foi contada por seu pai, Osório Pires de Almeida, que apresentava os fatos como verdadeiros e ocorridos no bairro rural de Pederneiras, no Vale do Rio Tietê. O nome do Juda era Biriçá. Ele pertencia ao proprietário de um sítio de criação que o instalava temporariamente em suas plantações. Certo dia, entretanto, uma enchente levou para sempre o espantalho dos passarinhos. Tempos depois, o sitiante perdeu sua melhor vaca e como não a encontrasse, fez uma promessa ao novo santo milagroso, que havia aparecido numa capela das vizinhanças, precedido de grande fama. Não deu outra: a vaca foi encontrada. Com isso, o lavrador se pôs na estrada em romaria para a capela do santo, com o objetivo de pagar a promessa feita para a recuperação do animal desgarrado. Já na capela, orando compenetrado, o sitiante era constantemente importunado pelo seu filho, que insistia em lhe revelar a sua descoberta: ‘Pai, isso não é santo nada; isso é o nosso Biriçá!’”

Essa e outras histórias deliciosas do interior de São Paulo estão numa preciosidade chamada “Os Espantalhos”, do jornalista Sérgio Coelho, caipira pela graça de Deus, e meu amigo, por presente de Deus. É da Editora TCM, de Sorocaba. Se você não encontrar nas melhores joalherias ou livrarias de Campinas, é só ligar para a editora que, se ainda houver, eles arrumam. É, a um tempo, a história dos deuses protetores da agricultura e a recuperação da nossa melhor cultura folclórica paulista. Só para deixar você com água na boca, terça-feira, a gente conversa aqui sobre algumas crendices que o Sérgio recolheu nesse mundo que ele conhece como ninguém.

Pregado no poste: “O presidente Lula está em visita ao Brasil”

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