Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Vai acabar o tráfico

O governo é uma mãe ou uma madrasta perversa – depende. Para reduzir a peste bubônica, Oswaldo Cruz pagava a quem entregasse ratos vivos ou mortos. O carioca, claro, passou a criar ratos. Vinham muitos circos a Campinas e os domadores e tratadores davam ingressos aos que levavam gatos para alimentar as feras. Tinha gente que passava o ano criando gatos para quando o circo chegasse – ali na Avenida Orosimbo Maia, onde hoje é maternidade; no campinho da Funilense, no trecho de terra da Rua Hércules Florence, e no outro lado da valeta, Delfino Cintra com a mesma Orosimbo.

Com a epidemia de aids, para desespero da igreja católica (mas não de todos os católicos), a saída foi distribuir camisinhas: melhor proteger fazendo, do que fazer sem proteger. Em seguida, as autoridades, impotentes e incompetentes para diminuir o uso de drogas e combater a síndrome, passaram a doar seringas aos viciados. (Só no Brasil: impotentes recomendam camisinha…)

A mais nova decisão generosa das autoridades é distribuir cachimbo aos viciados em craque, na esperança de que os coitados ‘se aproximem dos programas sociais do governo”. O sonho (benemérito) é também reduzir as hepatites. Só uma dúvida: programa social não é dar a vara em vez do peixe, criar emprego para o desempregado, escola para o analfabeto e campanhas de saúde para diminuir as doenças? Dar seringa e, agora, cachimbo, será que vai combater o vício?

Pode ser. Se der certo, vão pedir éter para o refino de cocaína. E cocaína, maconha, heroína e haxixe para os traficantes carentes, coitadinhos. (Será o “droga zero”). Assim, eles não precisarão mais se matar para conquistar os pontos de venda da droga. (Mas se distribuírem droga a quem tem vício, como dão pão para quem tem fome, para que ponto de venda? Aí, só faltará vender a alma, porque já tem mãe vendendo filho e até o etc..). Ninguém terá de passar a semana inteira atrás de skank e ecstasy para as festinhas de começo, meio e fim-de-semana. Em profusão, balas para revólveres e revólveres para balas. Calma! Vão oferecer estilingues para pedras e pedras para estilingues aos homicidas menos favorecidos.

Aí, cuidado! Vândalos exigirão spray de graça para sujar a cidade; inimigos da natureza pedirão motosserras para derrubar as (poucas) árvores que restam; camelôs-bandidos reclamarão o direito de venda livre de CDs piratas e artigos falsificados e, mais à frente, que o governo lhes forneça tudo já falso e pirateado para facilitar. Vocês vão ver a hora em que um exército de pinguços fará filas no Planalto, exigindo a ‘marvada’ de meia em meia hora.

Exagero? Começou com a criação de ratos…

Pregado no poste: “Alunos matavam aulas; hoje, traficantes matam alunos”

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