Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Urubu de Natal

Ao final da aula de um curso de Direito no interior de São Paulo, os alunos Maria Fernanda Segantin Prestupa e Marcelo Rodrigues foram direto ao assunto com o professor José Geraldo Poker: “ Já que o senhor é ateu, como será o Natal com suas filhas?”. E ele contou:

— Bem…,  apesar de ser ateu, não há como deixar de comemorar a noite de Natal, pois não tenho o direito de impor minha filosofia a elas. Minhas filhas são pequenas e não entenderiam o fato de toda a família estar reunida celebrando e nós estarmos indiferentes a tudo aquilo. Eu não tenho a pretensão que elas sigam o que eu acredito; procuro não interferir nesta parte da educação e deixo a critério delas escolherem sua crença de acordo com o que acreditarem.

Além do que, elas possuem muito apego às avós. Minha mãe é  católica e a de minha mulher, espírita e acabam se encarregando de mostrar a parte religiosa. Acho saudável para elas esse contato com as avós. Minha filha mais velha acompanha minha mãe à missa e também há influências de minha sogra, e à noite, antes de dormir, ela ensina para a irmã as orações que aprendeu.

Mas em certas ocasiões, crio entidades paliativas, como o Urubu de Natal. Ele, ao invés de distribuir os presentes nesta data, os leva embora. Minhas filhas juntam os brinquedos, roupas e outras coisas que não usam mais e levamos às entidades carentes, sempre em bom estado — eu não vou dar lixo para ser humano. Para poderem ganhar os presentes do Urubu de Natal, elas precisam primeiro de dar presentes. Seria bom se todos comemorassem dessa forma: em vez do Papai Noel, o Urubu de Natal.

Católicos, protestantes, espíritas, ateus, evangélicos, pentecostais, umbandistas… Fernanda adicionou o hinduísmo e comentou: “Chamam de ateus aqueles que não acreditam em um Deus pessoal; nós chamamos de ateus os que não acreditam em si mesmos; não acreditar no esplendor da própria alma é o que chamamos de ateísmo.”

Será que esse professor é ateu?

Pregado no poste: “Feliz Natal, ateus e não-ateus.”

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