Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Unidos em camas separadas

Dia desses, uma página de jornal velho caiu nas minhas mãos – não era do Correio Popular. Trazia a seguinte “notícia”: “Um casal da sociedade, separado há dois anos, teve um reencontro tempos atrás, por causa de um trágico acontecimento na família do marido. O consolo da ex-mulher acabou transformando a vida de solteiros de ambos. Agora, grávida de quatro meses, ela quer ter o filho que não teve na época em que eram casados. E ele não quer nem saber de voltar a dividir o mesmo teto com ela.”

Tipo do expediente fácil para enrolar o leitor. Qualquer um pode inventar um caso como esse. Que fosse verdade — o que nós temos a ver com isso? Se o “jornalista” acha que o fato merece ser divulgado, que dê nomes aos bois (ou aos dois), para transformar a suspeita de invenção em notícia.

Quer ver um boato se espalhar?

“A socialaite, não sabe como, a situação delicada da família foi parar nos ouvidos do cabeleireiro. Ela ficou horrorizada. ‘Calma queridinha! Só eu sei e quem me contou é muito discreto — não vai levar a história adiante. Estou comentando com você, porque existe aí uma chance de eu realizar um sonho de adolescência e ainda ajudar vocês. Você quer me ouvir?’

A mulher do marido quase falido nem imaginava o desfecho. Aceitou ouvir o cabeleireiro, numa sala apartada do salão. Ele soltou a franga:

— Não sei se alguma vez ele disse a você que nós fomos colegas de escola. Desde o ginásio até o último colegial. Não se assuste, nunca houve nada entre nós, muito menos qualquer insinuação de minha parte. Nem da dele. Como eu disse, posso realizar um sonho de adolescente, mas você tem de me ajudar. Se você me ajudar, ajudo você e ele. Você sabe que tenho alguns recursos e, mais do que isso, meios de levantar mais na praça. Não é empréstimo e ninguém saberá por que está me dando dinheiro. Mas só você pode realizar esse sonho.

Coitada, a socialaite se viu numa armadilha cercada de chantagem. Sem saída, foi em frente na conversa. O cabeleireiro jogou as cartas na mesa:

— Basta que você convença seu marido a passar uma noite comigo. Só uma noite. E a vida de vocês voltará ao normal. Ninguém vai perceber os atropelos que vivem hoje. Aceita?”

Fácil, não?

Pregado no poste: “Nem a CUT agüentou sua turma, companheira prefeita?”

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