Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Uma historinha

Deu no jornal: “Cartada decisiva do látex. A Lemgruber, empresa fluminense de luvas cirúrgicas, investirá R$ 30 milhões em fábrica no Espírito Santo ou Maranhão. Líder do mercado, ela iniciou atividades em 1939 e hoje tem 500 empregados. A iniciativa é importante para enfrentar a concorrência internacional. ‘Não é mais possível depender da importação do látex; vem tudo da Ásia’, conta o diretor Sérgio Bastos. Mais: ‘O Brasil, solo da seringueira, já importa 40% das luvas usadas no país.’”

Látex é uma das maiores vergonhas do Brasil, depois da conduta dos políticos. Mas já foi um dos nossos orgulhos. Não dos tempos áureos da borracha, do Luís Galvez, “imperador do Acre”. Esse orgulho demorou a chegar, veio depois da Segunda Guerra.

De repente, a matriz da Johnson&Johnson, nos Estados Unidos, assustou-se com a quantidade de luvas cirúrgicas importadas pelo Brasil. Um país do último mundo, com tão poucos hospitais, não tinha como justificar o consumo de luvas maior que os próprios americanos.

(Desculpem, acho que já contei esta história aqui. Deve ser anestesia do Carnaval. Mas se alguém não sabe ou não se lembra, ficará sabendo. São coisas do Brasil.)

Se já existia a Galeria Trabulsi, dona Marta Moraes devia vender muitas dessas luvas, na sua loja, “A Cirúrgica”, que ficava bem ali na entrada, lado direito de quem vinha pela Barão de Jaguara. Isso! Ponte dos bondes do Bosque e do Cemitério da Saudade: 11 e 12.

Pois é. Jeitinho brasileiro. Naqueles tempos de pós-guerra, a Johnson punha as primeiras camisinhas no mercado, mas elas não agradavam ao consumidor: muito grossas, incômodas, aquelas Jontex de dinossauros. Mas no Brasil, a turma comprava luvas cirúrgicas importadas, finíssimas, e improvisavam. E já vinham em cinco tamanhos! Do mata-piolho ao mindinho, passando pelo pai de todos… Sem falar no fura-bolo, o mais usado em lua-de-mel.

E assim, os americanos aprenderam, no Brasil, como teria de ser feita a famosa Jontex.

Vocês não vão acreditar, mas em 1985, um diretor da Johnson&Johnson escreveu um artigo bem-humorado contando essa história, e um jornal conservador recusou: “Você está louco? Falar em camisinha aqui? Os assinantes espastelam o jornal!” Logo, logo, o governo vai distribuir Jontex até no jardim da infância.

Pregado no poste: “Camisinha de força para os que não usam camisinha”

 

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