Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Um orgulho a menos

O nosso aeroporto de Viracopos foi o primeiro pouso do fantástico supersônico Concorde no Brasil. Ele não tinha onde aterrissar em São Paulo. Congonhas, na Capital paulista, era “deste tamainho”, e o Galeão, no Rio, quase não comportava uma máquina daquele tamanho. Foi em setembro de 1971. Nem nos Estados Unidos o “bicho” tinha se exibido ainda. Era a fabricante Aerospatiale, um consórcio inglês e francês, tentando seduzir nossas autoridades para permitir que aquele pássaro ganhasse o direito de voar por aqui, como faziam os da Boeing, Mc Donald Douglas, Lockheed e outros bichos. O grande apelo era o vôo além da velocidade do som – o primeiro a transportar passageiros numa viagem vertiginosa. Até ali, supersônico, só avião de guerra.

Um prodígio para a época. Ele tinha dois anos de vida e, antes mesmo de entrar em operação comercial, Campinas o receberia. Quase tão depressa quanto o cinema, que chegou a esta cidade dois anos depois de ser inventado pelos irmãos Lumière, na mesma França. O Concorde vinha para legitimar o pioneirismo, a tradição e o orgulho dos campineiros – um povo acostumado a viver com o futuro antes de ele chegar, como aconteceu com o rádio, a fotografia, a luz elétrica nas ruas, a pesquisa agrícola, o futebol no Brasil (está aí a Macaca)… Qualquer exagero nestas linhas fica por conta do bairrismo. Até que a Air France e a British Airways perceberam que com o Concorde voando para este quintal sul-americano do mundo, iriam à falência.

Se você ainda não me leu contando esta história (que entrou para a história), vou repetir. Os personagens são esse avião, Campinas e o jornalista Antônio Carlos de Júlio. O Concorde colocou esta cidade nas vizinhanças de Paris e seus habitantes, nos píncaros do orgulho. Numa roda de jornalistas que cobriam os Jogos Abertos do Interior na cidade de Tupã, de Júlio ouvia os colegas enaltecendo suas cidades. Ao falar de Campinas, ele soltou: “Não sei de que cidade vocês estão falando, a minha fica a seis horas de Paris…”. E ficava mesmo. Agora, com a provável saída de circulação dessas máquinas supersônicas, nunca mais sonharemos com a volta do Concorde. E Paris continuará cada vez mais longe.

Pregado no poste: “Houve tempo em que jogo de futebol se ganhava no campo.”

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