Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Um gesto… outra lição

Rua Delfino Cintra, 298. Endereço mágico, aquele. Não sei se perdeu a magia depois que a família Rossi saiu de lá. Seo Oscar, os filhos Luís Carlos, Marisa, Bete, mais dona Rosa e a Estela. Estas, mãe e filha, professoras daquelas que viviam para os alunos como vivem para os filhos. Ponto de encontro da molecada, desde a infância até depois que cada um se casou e a vida levou para todos os lados. Mas continua referência para todos os fiéis daquele lugar feliz.

Num fim de tarde, o bando reunido, no quartinho de passar roupa, lá no quintal: Lineu (dono do cachorro Nick, que só faz xixi se soltarem um balão galinha perto dele), Beto, Leda, Maria Lúcia, Admir e eu, a “vítima” da hora. Falávamos de utilidades e futilidades. Um exemplo? Na rolança do tempo, lembro-me de alguém, acho que a Maria Lúcia, elogiando o ator Jack Palance, enquanto Troy Donahue, do filme “Candelabro Italiano”, tinha preferência… talvez da Leda. A Bete jurava que em Piracicaba, esse filme passou com o nome de “Lamparina estrangeira”. Outro alguém – quase todos adolescentes – comentou: “Só gosto de filme onde os personagens são todos gente rica, porque de problema e tragédia, chega o que se vive no Brasil.” Já naquela época.

Empilhadas na janela, roupas e mais roupas para passar. Roupas de todo jeito e de todo mundo daquela família grande. Tão grande que os de fora também eram parte dela. Afinal, como dizia dona Rosa, a casa de um era a casa de todos. E era mesmo.

De repente, dei uma gargalhada com a história da “lamparina estrangeira”, esbarrei na pilha de roupas limpinhas e tudo foi ao chão. Juntei uma por uma e fui empilhando outra vez. Por último, uma calcinha. Fiquei vermelho de vergonha. (Naquele tempo, homem segurar uma calcinha em público era constrangedor.). Perdi o jeito. Riram do meu constrangimento. Como riram!

Só a Estela reagiu. Afagou minha cabeça e disse: “Liga, não. Se você ficou vermelho, é porque tem vergonha na cara.”.

Aconteceu o silêncio mais gostoso que já ouvi e jamais esqueci.

Pregado no poste: “Professor de verdade nunca zomba do aluno”

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