Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Um cheiro de naftalina no ar

Outro dia, o repórter Antônio Fornazieri, o nosso Tonhão, escreveu uma reportagem sobre os cheiros de Campinas. Ia escrever que foi “uma reportagem para ser cheirada”, mas nestes tempos tóxicos, poderia ser mal interpretado. Soube dela pela Internet, porque embora publicada no remoto 19 de outubro, o jornal ainda não chegou.

Você consegue guardar na lembrança os cheiros da cidade? É uma sensação incrível, não é? Alguns ficam para sempre, como o aroma inigualável do Café Mota, aí na Rua Saldanha Marinho. Ainda está lá? Outro que inebriava era o da pipoca, feita na hora, na entrada das Lojas Americanas, na Rua Ernesto Kuhlmann. E o das pizzas do Giovanetti? Outros empestavam Campinas inteira, como o daquela fábrica de sabão da Vila Nova e do curtume Cantúsio, no bairro do Bonfim – ou do São Bernardo? Até Jânio Quadros assumir a Presidência, o da lança-perfume emanava pelas portas dos salões. O Jânio assumiu, logo sumiu, mas o “cheiro proibido”, não.

De repente, dança no ar algum cheiro parecido com o que a gente se acostumava a sentir e o passado volta inteirinho. Já aconteceu isso com você?

(De longe, estou ouvindo a voz do Leonel Brizola, com sua arenga no horário político. O bafo da múmia chega até aqui! Quando ele fala no Getúlio Vargas, então, a fedentina fica insuportável. A Curadoria do Meio Ambiente não pode fazer nada para nos livrar desses caras?)

Semana passada, meu amigo Luís Carlos Rossi ligou para contar que, nos últimos dias, apareceu um cheiro de naftalina no ar de Campinas. Naftalina? De onde será? Orestes Quércia fazendo campanha para governador? Ou o Maluf, que andou por aí? Talvez, por causa de alguma televisão ligada no Sílvio Santos ou no J.Silvestre. Será que o Sílvio abriu o baú? Ou estaria a cidade reagindo a uma invasão inesperada de baratas? Pode ser. Uma vez, um cidadão nascido num país ao norte da África entrou na Drogaria São Luís e pediu 15 quilos de naftalina para matar barata. O farmacêutico se espantou. “Para que tantas? Meia dúzia resolve”. O fulano desafiou: “Resolve para o senhor, que tem boa pontaria…”

O Luís não sabia de onde vinha, até baixarem na casa dele, vestindo a mesma roupa, o Ademir Torquato e o Carlos Fernando Zanandré. Parecia uma dupla de porta-bandeira e mestre-sala. Descobriu: os dois são torcedores da Ponte Preta. Depois de tanto tempo sem ter o que comemorar, a torcida da “Macaca”, sonhando com a volta, desfila pela cidade com aquela camisa, que já vem com a faixa de campeã… Até sinto inveja, porque a esta hora, nem sei onde o Guarani foi parar. Por questões de ordem industrial, esta crônica foi escrita na noite de sexta-feira, 24 horas antes da última chance, contra o Vasco da Gama.

Sou bugrino, mas não anti-ponte-pretano. Torço por um dérbi no ano que vem, num jogo sem Beto Zini na presidência nem esses pernas-de-pau no time. Sem muita convicção na alma, mas louco para reviver a rivalidade, tomara que a querida “nega-véia” passe pelo Náutico hoje à tarde. Ou a Ponte nadou até aqui para morrer na praia? Falar nisso, Pardal, você aprendeu a nadar?

PS: Mas pra não perder o costume, no dérbi a gente goleia vocês, viu Conceição? Um beijo.

 

 

 

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