Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Um campineiro cão de guerra – 2

Mais um emocionante capítulo na vida do campineiro Manoel Alexandre Marcondes Machado Neto, Xande para os amigos e inimigos. Como se recorda, no capítulo de ontem, nosso herói estava envolvido como mercenário para tomar uma “republiqueta no sul da África”, (na verdade, a ainda colônia portuguesa de Angola), como narra sua tia Marina Cabral, autora do livro “Xande, mito, herói ou bandido?”.

“Xande estava bestificado pela grande capacidade de decisão e raciocínio do amigo. Não parecia mais a mesma pessoa e esse novo Johnny assustava-o. Pela sua segurança e competência no manejo da operação. Antes de zarparem, examinou detidamente as armas, compradas a peso de ouro, todas de ótima qualidade.

A viagem durou 60 dias através do Atlântico. Tempo suficiente para ensinar aos seis negros o manejo das armas. Poucas vezes haviam tido contato com elas, confidenciaram. Seus assaltos a mão armada eram feitos sempre com canivetes e punhais.

Johnny bolou um esquema para aperfeiçoá-los. Em alto mar, soltavam barris, presos às cordas imensas, que flutuavam. E estes eram os alvos de treinamento. Fora a tripulação normal do navio, havia um médico à bordo para uma eventual necessidade. Johnny ficava sempre trancado com o capitão, em assuntos privativos, entre estes, a elaboração da operação-ataque.

Xande sentiu-se mergulhado numa atmosfera de sonho. Aspirava o cheiro de maresia, inebriado, como se estivesse numa viagem fantástica num navio de sua fantasia. Muito mais tarde descia para os beliches fedorentos que repartia com os onze gorilas. Geralmente, estavam entrando na bebida, na heroína e jogando dados. Xande metia-se na brincadeira. Uma brincadeira um pouco cara, porque apostavam alto. Vencia sempre: na pobreza dos espíritos tacanhos, nunca percebiam que eram escamoteados. Arrebanhava a grana dos companheiros sem hesitação.

Na última noite à bordo, Johnny reuniu-os no convés e lhes expôs o plano a ser cumprido. Sairiam nos botes e se separariam em posições estratégicas. O palácio presidencial ficava sobre um outeiro, um pouco afastado da praia. Quando iniciassem o tiroteio, teriam de dar uma impressão numérica bem maior do que o suposto.

Nessa hora, sentiram que a festança terminara. E que um perigo iminente pairava sobre suas cabeças.”

Tchan, tchan, tchan, tchan!

Terça-feira, novo e emocionante capítulo de “Xande, mito, herói ou bandido?”, gentil oferecimento do professor José Roberto Piantoni, sobrinho da autora, que achou esse livro.

Pregado no poste: “Casa Civil ou Casa da Dilma?”

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