Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Um campineiro cão de guerra – 1

Se ele não saiu da obra do Frederick Forsyth, um dia entrou nela, ah, isso entrou. Figura polêmica, odiado por muitos, adorado por todas, nestas Campinas dos rebeldes anos 50s e 60s. Manoel Alexandre Marcondes Machado Neto, o Xande. Arrepiou, não é? Aprontou tudo o que o maior cafajeste e o mais generoso dos homens pôde aprontar. Neto de milionários, filho de ricaços e podre de rico, ganhou biografia — sincera, limpa e real — da tia Marina Cabral, quando fez 55 anos, em 1987. Morreu no começo deste ano. O jornalista Roberto Godoy foi dos últimos a vê-lo, perto do Natal – só de cuecas, tarde chuvosa, tomando uísque na garrafa, na rodovia Heitor Penteado. Falem tudo, menos que Xande foi o “Bandido Mascarado” que aterrorizou a cidade em 1961. Vou contar pra você só o capítulo do “Cão de Guerra”, da corajosa obra da Marina. Começa hoje e termina quando acabar.

“Alguns dias depois, reuniram-se no apartamento de Johnny.

Doze homens escolhidos a dedo. Os cinco bancos e seis negros eram da pior escória, apenas machos de tórax e braços agigantados. Xande destoava de todos no traço raçudo, no aspecto de um perfeito gentleman. Quando sóbrio, diga-se de passagem. Mesmo assim, fora incluído na seleção. Johnny conhecia sua frieza diante do perigo, sua sede de aventuras. Por isso, envolvera-o no lote.

E foi nesse dia que se inteiraram do trabalho para o qual tinha, sido contratados. Aceitaram a empreitada de olhos vendados. Os US$ 10 mil acenados foram suficientes para abafar quaisquer escrúpulos de consciência.

Tratava-se de uma aventura mercenária. Coisa de perigo e muita valentia: tomada de uma republiqueta no sul da África, com interesses internacionais. A meta seria prender o presidente Kito, trazendo de volta seu antecessor, que havia sido deposto por um golpe de estado e com quem países estrangeiros já haviam feito contratos para exploração de riquíssimo minério.

Johnny era o mediador encarregado de selecionar os homens, providenciar armamentos, fardas e toda a documentação legal, com certificados de compra e vistos de saída do país. Tinha contatos com pessoas influentes que facilitaram eu trabalho, através de muita grana. Pagamento à vista, em dólares.

Um pequeno cargueiro estava ancorado numa praia afastada, e em diversas etapas, através de furgões, foram recambiadas as armas: bazucas, morteiros, metralhadoras e todo o material adquirido. Em seguida, transportados até o navio por barcaças infláveis, com motorzinho de popa sem ruído. Por último, embarcaram os homens.”

Até amanhã, neste mesmo horário, em seu “Correio Popular”

Pregado no poste: “Não confunda Inferno de Dante com infante de terno”

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