Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

“Última flor do Laço”

Vai começar o martírio dos professores de Português em todo o País. Está quase na hora de corrigir as provas dos próximos vestibulares e a meninada anda a todo o vapor contra o idioma. Circula na rede mundial, com o nome de “Vestiburradas”, uma coleção de atentados à nossa língua nos últimos exames, igual aos cometidos pelos políticos nos discursos da última campanha. Afinal, houve candidato que prometeu às mulheres “mais saúde e o fim da menstruação”. Onde ele aprendeu isso? Para desespero do mestre Eduardo Abramides, aí vão exemplos do que não se deve escrever na hora da prova:
1. O pâncreas segrega a Billings.
2. O livro “Raízes do Brasil” é do botânico Sérgio Buarque de Hollanda.
3. O chefe da tribo indígena é o cacique ou molho de chave.
4. Sexo frágil é aquele feito entre meninos fracos e sexo forte é aquele feito entre garotos mais fortes.
5. José Bonifácio de Andrada e Silva foi o parque industrial da Independência.
6. Difração é a capacidade da onda de dar a volta por cima.
7. Quem escreveu a fábula da galinha ruiva é doido. Primeiro porque galinha ruiva não existe e, segundo, bicho não fala.
8. O antônimo de um é o sinônimo do outro.
9. A Volkswagem é brasileira, assim como o Fusca, que por curiosidade é da Volkswagem.Nas escolas brasileiras, pobre mal aprende o beabá para saber assinar o nome e também para facilitar na hora de votar nos sacanas.
Existe ainda uma lista de disparates ortográficos e de falhas de raciocínio. Dá pena, é de estarrecer: cidade rural; o homem suicidou-se tomando fornecida; material imperfeito estado; hêsito; hambiente; consepição; currículo vital; entre vistante; hinfra-estrutura; hurbano; opição; séquiço; interiorânea; encherga; próssimas; decepcionol; progressar-se (?) para o futuro; ascesso; rehouveram; troféis; degrais e… não acabam mais.
Parece piada, mas é a história verdadeira de muitas vítimas do ensino desprezado. Já alcançaram um estágio mais grave do que “não saber escrever”, típico de quem lê pouco, quase nada. Aqueles cujo conhecimento literário não vai além do cardápio de lanchonete. Essa “obra” eles conhecem, são capazes de fazer a melhor intelecção desse texto e analisar seu conteúdo com mais profundidade do que ninguém.
Alguns, porém, revelam indícios de que já não sabem pensar, típico de quem não demonstra o menor interesse pela vida, nem pela própria, muito menos pela dos outros. Espanta é que conseguiram chegar ao terceiro ano colegial nesse estado deplorável, prontos para não ingressar na universidade e engrossar o elenco dos “excluídos”.
Não seria o caso de se examinar o currículo escolar (ou já seria vida pregressa?) desses coitados, para responsabilizar todos aqueles que permitiram tamanha crueldade contra eles? Não há justificativa. Foram enganados. Não é possível que um jovem almeje a universidade nessas condições. A partir daí, só serão capazes de cometer atrocidades na vida, ao se verem ultrapassados pelos realmente capazes. Ao mesmo tempo, são vítimas da sociedade e a sociedade será vítima deles.
Pregado no poste: “Os maus que não se reelegeram como ficarão mais quatro anos sem fazer nada?”

 

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