Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Tudo mentira

Na França, fizeram concurso para eleger o “Rei dos Mentirosos”. Maurice Caudoin jurou falsear a verdade, toda a verdade e nada além da verdade. O prefeito da cidade de Moncrabeau, sede do evento, disse que lá os bons mentirosos vão para a academia, e os maus, para a Câmara Municipal. (Nossa, até na França!).

Em compensação, o brasileiro ouve mentiras desde que nasce. E mentiras contadas pela família; depois, pela igreja; algumas na escola, até que ele começa a ver televisão e vai ouvir mentira pela vida toda – quando não são os jornais falados entrevistando políticos, é o horário eleitoral mostrando os que já são e os que querem ser políticos.

Quando o irmãozinho do brasileiro ainda está no berço, dizem para ele que foi a cegonha que trouxe o coitado, pendurado no bico. O brasileiro chega ao mundo no bico da cegonha e parte no bico do corvo – é sempre levado no bico… Enquanto ele acredita na cegonha, dizem que se ele for bonzinho, estudioso, não torcer para o Corinthians, comer de tudo, não fizer xixi na cama, e acreditar em duendes — como manda a santa madre Xuxa — o Papai Noel vai lhe trazer um monte de presentes. Aí, ele começa a freqüentar a igreja e contam para ele, na aula de catecismo, que Adão e Eva, no Paraíso… lembra? Nessa história ele acreditava até conhecer outro ‘catecismo’, o do Carlos Zéfiro…

Sem contar que na escola, alguns professores ainda falam que o Brasil foi descoberto por acaso por Pedro Álvares Cabral, no dia 22 de Abril, dois meses depois do Carnaval. O menino brasileiro cresce num mundo de faz-de-conta. Num belo dia, sempre um domingo, falam para ele circular pela casa, percorrer o jardim (se ele tiver casa e a casa tiver jardim), em busca de ovos de chocolate, trazidos por coelhos. Pior é que um dia ele descobre que tudo isso é mentira, mas uma mentira que ele vai pregar nos filhos, que vão pregar nos netos, que…

Todo mundo, por mais experiência que tenha da vida, é ingênuo. O Rubinho Barrichello, por exemplo, acredita na Ferrari; o Bill Clinton anda com livro do Paulo Coelho debaixo do braço – e lê!; o Malan fala que a inflação é baixa e 170 milhões aceitam e o FHC até fala que governa o Brasil. O grau de ingenuidade pode ser medido agora – repare quantos políticos vão se reeleger. Nós somos ingênuos, e eles, espertos.

(Por falar em mentira, é verdade que vão mudar o nome da Avenida João Jorge para Nossa Senhora Aparecida?).

Pregado no poste: “Brasil — acredite se quiser”

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