Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Toca, Tonico! Voa, Bertinho!

 

— Há quanto tempo, Berto! Estou há muito para agradecer sua oração no lançamento da pedra fundamental do meu monumento, lá na praça. Bonito! Sei que foi difícil, todo mundo com medo dos republicanos; sabe como é, o imperador me ajudou… Você acha que eu devia recusar?

— Imagine! Na Europa, só falavam em você! Hoje é Pelé, Ayrton Senna… No nosso tempo, éramos você e eu. Eu voando e você regendo. O Verdi adorava você. Sempre dizia que você começava por onde ele terminava! Sabe lá o que é isso, Tonico? O Verdi! Conta só pra mim: aquele bailado, o Dança das Horas, aquilo é coisa sua, não é, Tonico?

— É. Mas o Ponchielli, bom amigo, estava em apuros, tinha de entregar a ‘Gioconda’ em abril, já era janeiro… Ajudei. O que é que tem?

— É que só foram descobrir a beleza dela em 53, quando o Disney fez aquele desenho, “Fantasia’…

— Sei. Mas fiquei contente, mesmo, quando o Bill Haley transformou a “Dança” em rock… “One, two, three, for o’clock…”. Quando Deus me viu passando a Maria Monteiro debaixo das pernas, falou: “Esses campineiros são loucos!”. A Celly Campello ria, até tirou o Ronnie Cord para dançar. E o Paulinho Nogueira acompanhando, naquele violão lindo que só dele. Até de trechos do Guarani fizeram rock! “Quem sabe” também virou: “Tão longe, de mim distante…” Maravilhoso, você não acha, Berto? Bertinho, olha. Quem vem lá!

— Nossa! Seo Savério, o Anastácio e o Mário Caprioli, rapaz! Tonico, gente boa demais essa! Uns dois anos antes de eu vir pro Céu, eles puseram um ônibus para ir e voltar Campinas – Capivari. Cresceram com o tal do ônibus, que muita gente prefere os carros deles do que os aviões que eu inventei. Hoje, eles vão para um monte de cidades, nenhuma do nosso tempo: Limeira, Conchas, Elias Fausto, Laranjal, Monte Mor, Jundiaí, ih, não acaba mais!

— Prazer, eu sou o Tonico de Campinas. Se são amigos do Bertinho, vocês são meus amigos, também. Mas de onde vocês conhecem o Bertinho?

— Conte aí, seo Savério.

— É que meus bisnetos, lá em Campinas, inventaram de inventar um tal de avião igual ao do Bertinho, e ele até deu uns palpites. Tão certo, que desde o dia 15, a Trip já leva gente voando para um monte cidades, também. É bonito, seo Tonico, sabe por quê? Toda hora passa um aí embaixo. Dá pra ver daqui! Emoção grande, viu? Fale filho Mário, está ansioso, o que é?

— Ainda que mal lhe pergunte, seo Tonico. A cidade onde estudou Santos Dumont tinha de ter uma empresa de avião, o senhor não acha? Agora, porque não tem um teatro Carlos Gomes na cidade onde o senhor nasceu?

— Ah, lá eles agora gostam daquele tal de Stalin, que Deus mandou pro inferno, não é mesmo Bertinho?

Pregado no poste: “Ano eleitoral – os lobos se vestem de cordeiros”

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