Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Tira o dedo daí

Tem mais de quarto de século, um boato correu o Brasil: um operário caiu no tanque de xarope de uma engarrafadora da Coca-Cola, no Rio de Janeiro, e foi dissolvido. O Pasquim e a Folha de S. Paulo embarcaram na história, mas nunca deram o nome da vítima, não encontraram seus parentes nem confirmaram nada. A Coca desmentiu um caso que, até prova em contrário, jamais existiu. Mas desencadeou a coragem de consumidores de denunciar negligência de empresas na fabricação de seus produtos.

A defesa do consumidor engatinhava. As primeiras denúncias foram contra os fabricantes de refrigerantes mesmo. Aparecia (e ainda aparece) de tudo em garrafas e latinhas: pedaços de escovas de dente, pernas de baratas, dentes de coelho, fios de cabelo… Esta semana, uma mulher encontrou um rato num pé de alface. No leite em caixinha, também bóiam coisas estranhas.

No caso das bebidas, fica difícil provar a negligência do fabricante ou a má-fé do consumidor, às vezes interessado só em aparecer. Ele pode, até, estar a serviço de algum concorrente (Isso existe, acredite.). Impossível provar, principalmente se o denunciante chega com a garrafa aberta. Quem garante que ele não colocou o objeto abjeto lá dentro?

Esse é o espertalhão, caçador de indenização. A maioria, porém, é vítima de empresário-bandido. Há os burros: uma vez, um notório anti-americano foi se queixar aos gritos nas Lojas Americanas, aí da Treze de Maio. Aproveitou para aparecer, pensando que a loja fosse multinacional, por causa do nome. Disse que comprou uma garrafa térmica para levar a uma pescaria: “Pus café frio nessa joça, de manhã, e à tarde, o café não tinha ficado quente.” Levou uma vaia…

Agora, uma mulher, lá em Moji das Cruzes, diz que encontrou um dedo num saco de pipoca embalada aí em Indaiatuba. “Lembrei-me de mim”: já fui auxiliar de pipoqueiro interino, nessa mesma Lojas Americanas. A máquina ficava bem na entrada da Ernesto Kuhlmann. Como era difícil abrir aquele saquinho! Só soprando dentro dele. E eu soprava. Tão inocente, soprava na frente dos fregueses. Ninguém reclamava. Se você comprou pipoca nas Lojas Americanas, na segunda metade dos anos 50s, desculpe.

Pregado no poste: “O homem é o melhor amigo do cachorro?”

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