Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Terra a prazo…!

Fiasco essa nau-capitânia do fim do século 20. Ela não conseguiu chegar a Porto Seguro no dia da festa dos 500 anos. E é movida a motor! Ficaram todos a ver navios. Uma vergonha para a indústria naval brasileira, que ainda não aprendeu a fazer uma embarcação melhor do que a dos portugueses de cinco séculos atrás, movida a vento! (Burros somos nós.). E essa não foi a primeira vergonha: Campinas deu um vexame igualzinho. Essa nau, que chamam de caravela, também fracassou no dia do lançamento.

Tragicômico. Ela foi construída para a festa dos 150 anos da Independência, em 1972. Um tal Vasco, dono de um restaurante no Guarujá, apareceu por aqui se dizendo descendente do Cabral. Até foi convidado pela comissão organizadora a visitar a “obra”. Brigou comigo. Durante a entrevista, comecei a vasculhar (sem trocadilho), a dinastia do descobridor e, em dado momento, Vasco disse que Cabral tinha mulheres ancestrais que levavam, digamos, “vida fácil”. O gajo me viu anotando aquilo e esbravejou: “Se puser no jornal que ele era filho de rapariga, paro de conversar e vou-me embora.”. Foi. Pus. Ora, pois, pois!

Algo prenunciava o fiasco. Tanto que a “cerimônia”, marcada para as 10 da manhã daquele 22 de abril, aconteceu de madrugada, para que o povo convidado não visse a vergonha, se não desse certo. Não deu. Sabendo da trama, mestre Mário Erbolato, chefe da sucursal de Campinas do “Estadão”, fez a equipe passar a noite na lagoa.

“Anunciação” ou “Anunciada”? – até hoje estão em dúvida sobre o nome certo da nau. A divergência deu briga entre historiadores da cidade, na época. Certo é que a dita cuja zarpou e encalhou. Um secretário da Prefeitura, na ânsia de salvar a situação, sugeriu até um trator, amarrado a cabos de aço, para “desatolar” a coitada. Você já viu navio atolar?

Os portugueses fizeram tudo direitinho e, para desespero deles, nos descobriram rapidinho, “à vista”. Nós, 500 anos depois, ainda não sabemos fazer uma nau. Tudo devagar, nesta terra “a prazo”.

Pregado no poste: “Aqui se aborta dando estilingada na cegonha.”

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