Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Ter ou não ser

Alguém já definiu o consumista assim: o perfeito idiota, que gasta o que não tem, para comprar o que não precisa e exibir para quem não conhece.

Geralmente, esse idiota é, de verdade, um coitado que ficou “videota”. Antes da TV, não havia esse consumismo exagerado. Os jornais, as rádios e as revistas nunca fizeram isso com ninguém. Nem as vitrines das lojas. Pior do que instigar o consumo é o poder de sedução que a maquininha de fazer doido tem de frustrar quem não pode consumir. Esse, que vê a mulher, as filhas e os filhos pedindo o que vendem a Xuxa, a Angélica, a Eliana, a Ana, a Troiana, a Marciana, a Bongiovana ou o raio que as espartanas. Se essa vítima tiver miolo um pouquinho mole, pira – ou atira! Há uns 20 anos, pouco mais, a Globo confessou que a maior parte dos telespectadores não tinha dinheiro para comprar o que ela anunciava. Será que está pior?

A meta é o dinheiro. Nada tem valor, tudo só tem preço. Nada tem alma, tudo tem marca. A meta é o dinheiro e o alvo somos nós.

Veja o que a dona do plim-plim exibiu em sua telinha da rede mundial semana passada, sob o desafiador e provocador título “Você sabia?”:

“Que das pessoas que assistem à Globo, mais da metade (51%) faz exercícios físicos pelo menos uma vez por semana; 88% consomem refrigerante e 52%, goma de mascar? Que 90% das pessoas que consomem isotônicos são espectadores da Globo no Rio, e em 94% dos lares onde houve consumo de iogurte nos últimos 30 dias, a Globo costuma ser sintonizada? Além disso, em 95% dos lares em que houve consumo de sorvete sintoniza-se com freqüência a Globo?”

Mais: você sabia que “no Brasil são pelo menos 10 milhões de jovens que pertencem à classe A/B? Que eles têm um vigor financeiro acima dos US$ 15 bilhões/ano? Que os jovens estão mais exigentes e otimistas do que nas gerações anteriores? Confira como falar a língua dos jovens, decifrando seus desejos, e onde encontrá-los, rentabilizando o seu investimento, já que 75% têm a televisão como fonte de informação para compras.”.

Se a pesquisa apurar o QI dos que se deixam levar pela TV para comprar, comprar, comprar o que acontece? Fácil: já aconteceu. Eis o Brasil.

Pregado no poste: “Plim-plim! Agora, pode fazer xixi.”

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