Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Templo da sujeira

Dias atrás, o Correio Popular Revista trouxe uma reportagem do nosso Rogério Verzignasse mostrando as ruínas do estádio “Horácio Antônio da Costa”, o histórico “Campo da Mojiana”, abandonado pela estatal que tinha a obrigação de cuidar do patrimônio erguido com o dinheiro do povo, mas preferiu jogá-lo nas mãos de uma secretaria do Trabalho que não trabalha pelos interesses de quem trabalha. Como se trata de uma “Praça de Esportes do Trabalhador”, não faz sentido ser administrada por quem não trabalha, nem por ela, muito menos pelo trabalhador.

Antes que algum barnabé graduado de plantão venha com desculpas (que não existem), é melhor que ele dê uma passada pelo velho “Horácio” e depois morra de vergonha. Chamar o estádio de “Praça de Esportes do Trabalhador” é um deboche a quem trabalha e um desprezo do governo deste Estado por Campinas.

Ali perto, as ruínas do Colégio “Culto à Ciência” confirmam o descaso de um governador maçom por um patrimônio construído e doado por maçons ao ensino público de São Paulo. Inacreditável. Uma instituição que tem entre seus símbolos o pedreiro e o arquiteto tem, também, entre seus membros, um engenheiro que deixa uma obra daquelas, com o significado que tem, ser destruída. Está tudo errado.

Terça-feira, o Correio mostrou outra exibição de falta de respeito. Desta vez, a de uma instituição religiosa (?), cujos membros transformaram o velho “Campo da Mojiana”, a Rua Cândido Gomide e cercanias, em um lixão. Sete mil “fiéis” (a quem?), que diziam se reunir em nome de Deus, foram capazes de produzir mais lixo e sujeira do que toda a torcida do querido extinto Esporte Clube Mojiana, em toda a existência do clube ferroviário. Nunca vi aquele estádio sujo, enquanto o Mojiana existiu.

Abandonado, ele parece o Coliseu de Roma, obra de Vespasiano a Tito, que até 80 anos depois de Cristo atraía o povo para ver corridas de bigas e as feras comendo cristãos. Hoje, depois dos tempos de glória e quando as patas de “governos” ainda não o haviam massacrado, nesse estádio são “cristãos” que se reúnem e deixam um rastro de detritos e dejetos que nem as feras são capazes de deixar. Leões em Roma, porcos em Campinas.

Nossa cidade não merece conviver com esses fanáticos que pregam a limpeza da alma e praticam a sujeira das ruas, das praças públicas e das portas das casas por onde passam jogando o lixo que produzem enquanto rezam. Tudo “em nome do Senhor”. Se deixam o que é de todos nesse estado, imagine como devem ser suas casas, seus templos… Se não respeitam o que é do próximo, como acreditar em suas arengas radiofônicas que clamam por respeito? Que sinceridade há nessas mensagens cifradas por apelos aos cifrões, se nem asseio deles se deve esperar? Como confiar a eles freqüência a uma praça pública usada como se fosse (praça) privada?

Por mais este ato de fé na imundície, toda a população de Campinas pagou, porque quem sujou não se preocupou em limpar. Felizmente, a boa notícia chegou três dias depois: Careca e Edmar vão abrigar o Campinas Futebol Clube no “campo da Mojiana”. É um ponto a mais na cidade livre da profanação.

Sai capeta!

PS: Beto Zini, não dá para contratar o presidente da Ponte para ser presidente do Guarani? Quem sabe…

 

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