Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Te contei, não?

Dizem que ela faz bem ao coração, mas não acredito. Fosse assim, não existiria cearense cardíaco. Pois é: Fortaleza é a capital da fofoca, jura uma pesquisa. E não é fofoca! Assim, crescem as peculiaridades de cada estado brasileiro: dois paulistanos fazem uma fila; dois cariocas, uma sacanagem; dois mineiros, uma conspiração; dois goianos, uma dupla caipira; dois mato-grossenses, uma pescaria; dois baianos, uma rede; dois gaúchos, uma cooperativa, e dois cearenses, enfim, uma fofoca. É lá que elas começam?

A primeira fofoca quem fez foi a serpente do Paraíso, falando que Deus proibira a maçã, para Adão não ficar poderoso como Ele. Por isso, os fofoqueiros são conhecidos por víboras, línguas-de-cobra. Você se lembra dos “Mexericos da Candinha”, na Revista do Rádio? Ganhou até música do Roberto. E dos “Mexericos da Cidinha’, com a Cidinha Campos, na Rádio Jovem Pan? Na minha rua, a Professor Luís Rosa, aí em Campinas, morava uma, muito querida, chamada “Gazeta da Rua”. Como dizem os fofoqueiros, “o nome dela não revelo nem sob tortura”. Ninguém escapa: artistas, a vizinha, o vizinho, o padeiro, a mulher dele, o padre, a madre, a mulher do próximo, até o próximo da mulher…

(Falando em padre, o Cecílio Elias Neto poderia contar de novo aquela do padre que escrevia cartas anônimas para as figuras de proa da sociedade de São Pedro. Quase termina em chacina. Conta de novo, Cecílio?).

Um dos melhores repórteres que conheci, o Luiz Roberto de Souza Queiroz, noticiou certa vez no Estadão (com provas!), que um funcionário da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb), era conhecido como “o homem da mala preta”, por ficar com parte do dinheiro arrecadado nos estacionamentos das zonas azuis. O chefe de Gabinete do governador (!) Salim Maluf, Calim Eid, em vez de investigar, mandou publicar o seguinte despacho no Diário Oficial: “Isso é fofoca do Bebeto.”. O ladrão foi descoberto, mas jamais, preso.

Campinas teve um bandido mascarado, lá por 1961. Fofocas apontavam para o filho de um político. Mais de vinte anos depois, o verdadeiro mascarado apareceu: pacato farmacêutico em São José do Rio Preto.

Quem está virando para os 50 deve se lembrar de uma fofoca maldosa que varreu Campinas, lá no meio dos anos 60. De repente, uma moça muito bonita caiu na boca do povo. Diziam que ela arrancara um pedaço do namorado. Mentira. Foi o próprio namorado, um bobalhão, que espalhou, inconformado com o merecido ‘fora’ que levara da garota.

Hoje, fofoqueiro é profissão, para desespero dos jornalistas de verdade.

Pregado no poste: “Bandido doente também pode ir pra casa ou só juiz bandido?”

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