Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Tá explicado!

Quando dizem que o vício em drogas é genético, tem sua lógica. Vá saber como as ‘ratataravós’ tratavam as ‘rataravós’ de ‘trasantanho’. O Roberto Zammataro descobriu, imagine!, a mãe aflita entra numa botica do Beco do Rodovalho e pede ao boticário um vidro de heroína para acalmar a tosse do filho. Heroína era marca registrada do laboratório alemão do Dr. Friedrich Bayer, de Elberfeld. Mas como dizem até hoje que “se é Bayer, é bom”…

Cansaço da mente e do corpo? Nevralgia? Insônia? Nas boticas, um “agradável tônico revigorante”, em “folhas frescas” ou líquido puro em forma de vinho: cocaína! Não vinha da Colômbia, da Bolívia nem falsificada no Paraguai. Sua origem era o maior centro de consumo hoje: Estados Unidos. O reclame (a coca era anunciada, com direito ao desenho da planta e tudo) dizia que era pura e produzida no laboratório do dr. Theodore Metcalf, em Boston.

Por falar em vinho de cocaína, minha Nossa Senhora!, o Papa Leão 13 era o maior garoto-propaganda do Vinho de Cocaína Mariana. Meu Deus! O nome de Maria batizando vinho de cocaína! Este mundo estava perdido. Está lá Sua Santidade sorridente, recomendando o “Mariana”, o mais consumido na virada do século 19 para o 20: “Força, saúde, energia e vitalidade; estimulante para o cérebro e para o corpo!” Então, é por isso que, às vezes, ao dar a comunhão, em vez de dizer “Corpo de Dio” ele dizia “Dio, que corpo!” Devia ser a bisavó da Sophia Loren comungando.

(Dizem que a Virgem não tem nada com isso; que o nome se deve a Ângelo Mariani, fundador da adega.)

Prometiam o mesmo efeito com o vinho de cocaína Maltine. “Servir uma taça cheia junto ou imediatamente após a refeição”. E ficava todo mundo doidão.

A alemã Boehringer & Soenne dizia ser a maior fabricante mundial de produtos à base de quinino e cocaína. E anunciava até em peso de papel. Sobrou a água tônica de quinino – “Eu bebo isso dede menino”.

A Martin H. Smith Company, de Nova York, misturava cocaína com glicose e servia para tudo: tosse, asma, pneumonia, calo, caspa. A propaganda sugeria misturar ao tempero ou ao açúcar, para ser mais “palatável”. Vixe!

Que tal curar a asma e “outras afecções espasmódicas” com Vapor-ol, mistura de álcool e ópio?

Para cantores, professores (Afe!) e oradores, o laboratório Vanderbroek oferecia pastilhas de cocaína com mentol, calmante para as cordas vocais.

O Lloyd Manufacturing recomendava dropes de cocaína para a dor de dentes das crianças. E para aquietar recém-nascidos… Ópio, meu! “Para crianças com cinco dias, 3 gotas; duas semanas, 8; cinco anos, 25. Adultos, uma colher cheia.”

Pregado no poste: “Ponte e Guarani não ganham nem um do outro”

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