Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Sosseguem, leões

Seo Zé Português vai dizer que tudo não passa de um “entrevero entre paneleiros”. Mas a coisa cresce, por que é em Campinas que ela acontece (Ih! Rimou…), bem no tradicional City Bar, do seo Zé. Fosse numa ‘casa italiana com certeza’, tudo acabaria em pizza; como é numa portuguesa, não dá para acabar em bolinho de bacalhau? O quê!? Croquete!?

Brincadeiras à parte, já foi pior. A fama começou no tempo do Império, por causa do requinte e afetação dos homens de nossa nobre elite. Aumentou, quando Assis Valente achou de homenagear um médico campineiro com a música “Camisa listrada”, gravada pela Carmen Miranda, sucesso no Carnaval de 1937. Esse médico, formado na França, diz a lenda, atacou um paciente que ainda se recuperava de uma cirurgia de apêndice, num hospital do Rio de Janeiro. O ‘assediado’ quase morreu, e o ‘causo’ virou escândalo na velha capital, inspirando o compositor.

A letra do Assis é sutil, leia:

“Vestiu uma camisa listrada,/ E saiu por aí,/ Em vez de tomar chá com torrada,/ Ele tomou parati./ Levava um canivete no cinto/ E um pandeiro na mão,/ E sorria quando o povo dizia:/ ‘Sossega, leão, sossega, leão!’/ Tirou seu anel de doutor,/ Para não dar o que falar,/ E saiu, dizendo eu quero mamá,/ Mamãe eu quero mamá,/ Levou meu saco de água quente,/ Pra fazer chupeta,/ E rompeu minha cortina de veludo,/ Pra fazer uma saia,/ Abriu meu guarda-roupa,/ Arrancou a combinação,/ Até do cabo de vassoura,/ Ele fez o estandarte para o seu cordão./ E agora que a batucada/ Já vai terminando,/ Eu não deixo e não consinto,/ Meu querido debochar de mim,/ Porque, se ele pegar as minhas coisas,/ Vai dar o que falar./ Se fantasia de Antonieta,/ E vai dançar no Bola Preta,/ Até o sol raiar.

Mais pra frente, numa “Família Trapo”, da TV Record, já decadente, Ronald Golias fez uma brincadeira que provocou indignação do então prefeito Lauro Péricles e uma reportagem de capa na revista Veja: “Campinas, a fama injusta”. Como resposta, 48 horas depois do programa, um gay quase foi esquartejado na periferia da cidade.

Eram tempos de vingança e de preconceito mais forte. A “juventude transviada” andava com chicote nos carros para pegar os ‘transviados’, até ver numa edição de Carnaval da revista O Cruzeiro a foto de um de seus ‘machões’ desfilando de “Libélula deslumbrada”, no mesmo Rio de Janeiro.

Seo Zé, esqueça. Se não, vão chamar o City Bar de barbicha. Essa é velha.

Pregado no poste: “Justo em Campinas?”

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