Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Solitário

O professor Euclydes Guimarães levou para o Céu uma história de amor que só ele viveu. Escolheu a solidão por companheira em lugar daquela que não quis acompanhá-lo. Sempre sozinho. Quando inspetor de alunos, morava no próprio Colégio Ateneu Paulista. E lá começou a lecionar.

Deve ter sido o último daquele fantástico corpo docente que ainda vivia. Era o auge da escola. Tempo do diretor Rafael Flores, dos professores Ernesto Alves Filho (Português), Álvaro Cotomacci (Inglês), Sylvio Salles Nogueira (Desenho), alguém de apelido tão famoso – Sarravuglio – de quem ninguém se lembra o nome, mas não da disciplina que lecionava: Francês.

Mais: João Reginato Fiorello (Ciências), Antônio Aquino (Latim), José Roberto Amaral Lapa (História), sua benção, João Batista Amade (Matemática), Trabalhos Manuais (Silvano Lopes), Mário di Túlio (Música), monsenhor Lázaro Mütschelle (Religião) e César Frazato (Educação Física).

Foi o último a deixar o prédio do Ateneu, em 1967. De lá, foi para a Escola Normal depois, para o “Culto à Ciência”, já nos anos 80s, acredita o mestre José Alexandre dos Santos Ribeiro. Eles se aposentaram juntos, em 1992. Dias antes de morrer, o professor Euclydes assistiu a uma palestra do Alexandre sobre a trajetória musical de Carlos Gomes, na Academia Campineira de Letras e Artes.

Seu corpo passou dias à espera de parentes da sua Jaú, que talvez nem conhecesse mais, tamanho seu apego à fidelidade a alguém que não lhe correspondia. Contam que quando conheceu a jovem por quem se apaixonou, comprou uma casa no miolo do Cambuí. Mobiliou, embelezou e jurou que só viveria ali se sua amada fosse com ele. A casa estaria abandonada até hoje. O coração tem razões que até a razão desconhece.

(Até o final da tarde da quinta-feira que passou, não consegui saber em que período o professor lecionou no Culto à Ciência. Um professor disse a um amigo que não achava referência na papelada. No 102 da Telefônica, descobre-se que nem ela sabe o número do telefone daquela que foi a melhor escola pública do País. Deram-me seis números, dos quais dois não existem, dois são atendidos por uma secretária eletrônica e um é da Escola Maria de Lourdes, mas a Telefônica jura que é da Secretaria de Educação.)

Pregado no poste: “Aquele Culto à Ciência não existe mais, nem na Telefônica”

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