Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Social, sem detalhes

Agora, a moda é dar sapatos de presente. Negócio esquisito. “Que número você calça?” Essa é uma pergunta que não se faz nem para uma mulher. Imagine se ela usa 44 bico largo… O que vão dizer da coitada? Mas eu já tive de perguntar para uma linda mulher, qual o tamanho da chanca. E ela não entendeu nada.

História maluca: o suposto namorado dela – acho que namoro inventado – veio cantar em Campinas e a patrocinadora da transmissão pela Rádio Cultura era uma fábrica de sapatos. Nosso querido Zito Palhares, amigo do dono da fábrica, achou de bom tom dar um par de botas para o namorado presentear a “namorada”. Ou namorada sem aspas, vai saber… O tal namorado, mesmo, só ganhou gritinhos das fãs, quando entrou na Fonte São Paulo, e aplausos, muitos aplausos, após cada música. Merecidos.

A dita fulana calçava – ainda calça – 37. E, lembro-me bem, o cano da bota de couro branco ia até os joelhos, com enfeites dourados. Até hoje não sei se ela recebeu o presente. O namorado veio sozinho. No meio do show, seo Palhares subiu ao palco. Eu atrás, com aquela caixa enorme debaixo do braço. Lá na platéia, o fotógrafo Tremendão, devidamente aparelhado, registrou quando Agnaldo Rayol abriu a caixa, largou o papel de embrulho e o marrio na minha mão e agradeceu as botas da Márcia Maria, na época garota-propaganda e atriz da TV Record. Tempos de “As pupilas do senhor reitor”. Na terça-feira seguinte, nosso retrato – seo Palhares, Agnaldo e eu e as botas – no Correio Popular. Que cena!

Agora, deu na televisão que o prefeito da Franca achou de bom tom dar um par de sapatos para o atual futuro primeiro casal. Os quatro pés feitos à mão (pé feito à mão?). Diz o fabricante que os calçados do dia “serão simples, sociais finos, sem detalhes”. O modelo que apareceu na tela não é de amarrar, é de enfiar (enfiar o pé – no sapato! – sem precisar amarrar), entendeu? Depois dessa, ninguém segura os puxa-sacos: uma pinguinha de Piracicaba; ‘um chopes e dois pastel’ de Ribeirão; uma lingüiça de Bragança; meia dúzia de gengibirra (boa pra arrotar) de Santa Bárbara; uma caixa de figo de Valinhos; uma muda de alecrim, do padre Caran e outra de lima, de Limeira; um jogo de xícaras de chá de porcelana de Pedreira; florezinhas de Holambra; um corte de tecido de algodão de Americana; um arreio de Barretos… E de Campinas, dona Izalene, como sempre, elegantemente vestida — para presente.

Pregado no poste: “Dona Izalene, a senhora conseguiu convite para a posse?”

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