Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

Só fantasia

Campinas tinha Carnaval de rua, sim senhor!

Mas este ano, a memória de meio século da maior festa popular da cidade foi jogada no lixo. Adeus Acadêmicos do Ubirajara, de mestre Cilinho. Adeus, A Voz do Morro, de Sabará, Oscarlina e Ercy. Adeus Estrela Dalva, de Beiçola. Adeus, Nem Sangue nem Areia, de Lorde Tulé e seu bloco dos cabeções e de bois, que enfrentavam o público que os aplaudia nas calçadas da Glicério, da Campos Sales e da Conceição. Adeus Carnaval da Vila, que enchia de alegria a Salles Oliveira, com a passagem do Leão da Várzea e dos Marujos.

Um Carnaval no Centro e outro na Vila, de tanta alegria nesta cidade agora triste. Para onde levaram o palanque da Glicério, altar do grande radialista e jornalista Zaiman de Brito Franco? Onde está o trono de Camel Bestame, nosso eterno rei Momo? Onde estão Zé Sidney, Alfredo Orlando, Pereira Emeriz, Cunha Mendes, Zito Palhares, Geraldo Sussoline, Jorge Azis, Carlos Luz, Eliseu Gouveia, Geraldo Carreira e Jaércio Barbosa? Eles levavam a festa das ruas para dentro das casas, mansões e barracos da cidade, pelas ondas de nossas rádios.

Acabou o Carnaval aberto ao povo, ficou o Carnaval confinado dos clubes, já sem o brilho, o glamour e a exuberância que o confundia com a magia de Campinas. Assim, mostrou o “Correio Popular Revista”, domingo passado, de quando o baile de gala do Tênis, da Betty Nunes da Silva e do Grama, do Carlão e da Mariluce Vachiano, era referência nacional do melhor Carnaval. A reportagem fala dos grandes astros da passarela – Clóvis Bornai, Mauro Rosas, Evandro de Castro Lima – e eu me lembrei da entrevista que o Eliseu Gouveia fez com o Bornai, no fim do desfile de fantasias:

— Bornai, fale de sua emoção, para os ouvintes Rádio Educadora, 15 quilos de potência na antena!

— Nossa ! Quantos quilos?

— Quinze!

— Ai, que antenão!

O sóbrio e inesquecível Eliseu não conseguiu levar a conversa adiante.

Campinas tinha Carnaval, hoje tem Chico Amaral. Rima, mas não é solução. Entregue a chave da cidade para o rei Momo e vá descansar, seo Pagano.

Pregado no poste: “O ano 2000 começa amanhã. Mas só depois do meio-dia”

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