Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Só faltava essa

Eu e essa mania infame de ouvir no rádio e ver na TV programas que ninguém liga. Só horário político, que não; tenha dó!

Este Brasil tem uma ministra do Meio Ambiente que até hoje espera a distribuição (pelo governo dela) de sementes naturais prometidas para os “povos da floresta” e nunca recebeu nem migalha de pão podre.

Essa mesma ministra do Meio Ambiente passou a vida (heróica e digna) combatendo a importação de pneus usados. O presidente, acho que ele nem sabe, autorizou a importação de pneus usados, prejudicando, ao mesmo tempo, a qualidade de vida do país que ele preside e os tais “povos da floresta”, que se valem de borracha extrativa para sobreviver e, agora, têm um concorrente, pronto para ser usado e, depois, queimado, jogado nos rios, no mar – envenenando a Pátria do PT, do PV e de todos nós, enfim. Envenenando nós e livrando dessa poluição as “superpotências capitalistas imperialistas” que eles sempre disseram para nós que são o “Império do Mal”…

A nossa ministra do Meio Ambiente passou parte da vida (dura e exemplar) combatendo os transgênicos e dizendo pra nós que eles são perigosos para a nossa saúde, a saúde dos nossos filhos, até a dos filhos e dos próprios “povos da floresta”. Aí, o governo em quem ela mandou o povo votar (todos, “da floresta” ou não) aprovou os transgênicos.

Apesar de tanto deboche contra ela e nós, do governo em quem ela mandou a gente votar, ela continua lá. Será que foi geneticamente modificada, coitada, para obedecer calada?

Só faltava o que se deu na última noite de setembro: “A Voz do Brasil”, aquele jornal falado chapa-branca, que só tem de bom o prefixo, noticiou que, em Brasília (tinha de ser!) governo e deputados debatem a construção da usina nuclear de Angra III! Um diretor da Eletronuclear, empresa ligada ao Ministério das Minas e Energia, jura que será o fim dos apagões. Outro, da Ciência e Tecnologia, fala que se todas as usinas a carvão forem substituídas pela energia letal, a atmosfera deixará de receber cinco bilhões de toneladas de dióxido de enxofre por ano (não sei como ele mediu isso, para contar pra nós).

Só pra lembrar, as Angras 1 e 2 custaram US$ 20 bilhões e só produzem 3% da energia consumida no Brasil. O ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, anunciou ontem no Rio de Janeiro, feliz da vida (ou da morte?), que o país já começará a produzir em escala industrial urânio enriquecido.

Pregado no poste: “Ministra, ‘povos da floresta’ não é conto de fadas num país de bruxos?”

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