Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Só falta o Nobel de Química

Se a Fernanda Montenegro trouxer o Oscar de melhor atriz, só falta ao Brasil ganhar um prêmio Nobel, para locupletar o orgulho nacional e legitimar a mania desta Nação de perseguir glórias já conquistadas por outros povos. Nossa história é mercada por essa neurose. Parece que o Brasil é uma pátria de segunda categoria, se não vem um galardão capaz de colocá-lo no pódio do mundo.

A primeira fixação era a busca por uma medalha de ouro olímpica, que só veio com Adhemar Ferreira da Silva, nosso “Canguru”, nos jogos de Helsinki, em 1952. Façanha repetida em 1956, na Olimpíada de Melbourne. A de Guilherme Paraense, com pistola, nos jogos de Antuérpia, em 1920, estava tão distante, que ninguém mais se lembrava nesta terra sem memória.

Outra “nhaca” foi a Copa do Mundo. Como demorou a chegar a conquista da Suécia, em 1958! — um tempo que parecia eternidade por causa da esperança perdida na França, em 1938, e da tragédia do Maracanã, em 1950. E no boxe? Eder Jofre lavou a alma dos que vêem essas vitórias como necessidade de afirmação. Logo em seguida, Maria Ester Bueno ganhou em Wimbledom e, de lambuja, a seleção masculina de basquete ganhou o Mundial no Chile, em 1959, com a exclusão da União Soviética, o que, convenhamos, facilitou tudo.

Ainda no esporte, faltava a Fórmula Um. Chico Landi e Benedito Lopes podiam ser ídolos, mas não eram campeões, como Juan Manuel Fangio, da arqui-rival Argentina. Émerson Fittipaldi deu um jeito. A corrida de São Silvestre também era uma ‘vergonha’. Desde que virou internacional, brasileiro algum ganhava a prova. O País esperou até 1980, quando um brasileiro de nome bem caboclo, José João da Silva, derrubou o mito de que fazemos competição para a alegria dos outros.

E o concurso de Miss Universo, então? O Brasil era o único país a dar bola para essa besteira. Tínhamos de provar ao mundo que a mulher brasileira é a mais bela. Marta Rocha perder em 1954, por causa de uma polegada, foi igual à perda da Copa para o Uruguai. Em 1963, a gaúcha Yeda Maria Vargas foi lá e trouxe o cetro. Depois dela, outras brasileiras ganharam. Mas não adianta: miss é a Marta.

Ao mesmo tampo, a resistência de algumas personalidades mundiais em vir ao Brasil mexia com o orgulho da gente. Frank Sinatra era um. A cada janeiro, os jornais publicavam previsões até de astrólogos: “Este ano, Frank Sinatra virá ao Brasil”. Veio. Começaram, então, a aporrinhar a vida do Papa. Até que o João Paulo II se condoeu e desembarcou por aqui. Gostou. Tanto, que veio outras vezes.

Anselmo Duarte conseguiu trazer a Palma de Ouro do Festival de Cannes, com “O pagador de promessa”. Mas não serve: “Nóis qué, mêmo, é o Oscar”. Depois do Oscar, vão querer um Nobel.

Mas Nobel de quê? Da Paz? Esse não interessa, os argentinos já levaram. De Literatura? O mundo que entende Português preferiu o José Saramago. De Economia? Tá louco? Você acha que terra de Delfim Netto e Zélia Cardoso de Mello merece ganhar Nobel de Economia?

Que tal o Nobel de Química? Sugiro que seja dado a todos os políticos brasileiros. Espantado por quê? Eles conseguiram transformar o Brasil numa m…

Pregado no poste: TV paga? Nem de graça! TV de graça? Nem paga!

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