Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Sim ou não, seo Pagano?

Se o senhor não tivesse sido aluno da minha avó e tão respeitado lá em casa, eu ainda ia arrumar um arranca-rabo com o senhor. Respeitado, antigamente, porque quem anda com Maluf não merece meu respeito. Viu só? Foi só sair em companhia dele e o senhor já virou “factóide”. Foi assim que o Correio o chamou ainda outro dia. Juro que em vez de “factóide”, eu li “fascistóide”. Essa de abandonar a cidade em troca do Maluf e baixar o preço da passagem do ônibus em véspera de eleição é mais velha do que minha avó. E ela não o ensinou a ser assim.
Sempre que leio alguma coisa, me lembro de alguém que conheço. Cá entre nós, seo Pagano, sem que ninguém que nos ouça (ou nos leia), faça de conta que está lendo um daqueles testes de revistas de passa-tempo e responda, marcando apenas “sim” ou “não”. Combinado?
1. O senhor já não acha ruim carregar guarda-chuva pra lá e pra cá?
2. Vai ao médico um mês antes da data marcada para a consulta?
3. Mandou acertar o relógio de sol com o horário de verão?
4. Usa sempre aquele casaquinho de tricô azul?
5. A barriga esconde seus documentos?
6. Quando vê uma mulher bonita diz: “Peguei no colo!”?
7. Carrega receita do médico para onde for?
8. Põe o melhor terno para ir comprar pão?
9. Refere-se ao dinheiro como “mirréis”?
10. Na Rua Treze de Maio, pergunta: “Ué! Cadê o teatro? Cadê os bondes?”
11. Segura no “santo antônio” quando anda de carro?
12. Vai à feira todo sábado?
13. Leva sempre uma sacolinha para carregar a tralha?
14. Os farmacêuticos de Campinas já o chamam pelo nome?
15. Confunde uma Mercedes Benz 600 com um Landau?
16. Para o senhor, carro “bão” é o Ford “bigode”?
17. Qualquer nuvem no céu e o senhor já sai de capa e galocha?
18. Como eu, o senhor acha computador coisa do “capeta”?
19. Quando o telefone toca, o senhor vai atender a porta?
20. Já atendeu o telefone quando tocou a campainha?
21. Repara se o apresentador do Jornal do Meio Dia pintou os cabelos?
22. Quando vai a São Paulo, pensa em pegar a Litorina das 6h28?
23. Chama motorista de táxi de chofer de praça?
24. Alguma vez chamou o deputado Pimenta da Veiga de Pimenta do Reino?
25. Usa Glostora, Aristolino ou Gumex para se pentear? E pente Flamengo?
26. Pede para o contínuo comprar Pílulas de Vida do Dr. Ross na Drogasil?
27. Quando conversa com alguém, diz “na minha mocidade”?
28. O senhor se refere à Praça Imprensa Fluminense como “Jardim Público?”
29. Mandou o oficial de gabinete à banca de jornal comprar “O Cruzeiro”?
30. Abre o Correio e vai direto às “notas de falecimento”?
31. Nunca chamou o prefeito de Hortolândia de “meu colega de Jacuba”?
32. Sai por aí assobiando músicas que não existem? E tem acesso de tosse?
33. Pensa em convidar Mané Fala Ó, Dito Colarinho, Gilda e Zé Trovão para o palanque?
34. Quer saber se Fricote, Pavuna, Camisola e Godê vão jogar domingo?
35. Chama o Jardim Itatinga de “bairro das meninas”?
36. Quando vai ao restaurante amarra o gurdanapo no pescoço?
37. E assopra a colher para esfriar a sopa?
Amigo Pagano, para a molecada que gosta de brincar na Internet, “nóis tamo
ficando véio”. Eu, pelo menos, respondi “sim” a várias dessas perguntas. Muitas estão na rede mundial. Mas uma coisa eu garanto, nem antes nem depois de “véio”, eu trocaria minha cidade por ninguém, muito menos por esse que o senhor acaba de escolher para sair por aí. Em tempo: dona Marília sabe disso?
Pregado no poste: “Quem apóia Maluf sofre da Síndrome de Estocolmo?”

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