Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Seriam brasileiros?

Li nos jornais: aquela mulher que foi ministra da Fazenda, a tal de Zélia Cardoso de Mello, é consultora. Você teria coragem de pedir a ela uma consultoria sobre qualquer assunto – financeiro, matrimonial, ético, mundano, esportivo, moral, corintiano, profano…? Ela vive em Nova York, feia, leve e solta, enquanto nós, o povo, sobrevivemos no Brasil. Será que ela é filha do Fernando Henrique Cardoso com o Fernando Collor de Mello?

Lembrei-me daquela mulher quando li na edição de 100 anos atrás de um jornal, a notícia de um acontecimento em Nova York. Na hora, imaginei: deve ser um brasileiro que viveu lá, especializado em, malandramente, tomar uns trocados dos ingênuos. Exatamente como fez aquela senhora, em grande escala e estilo, quando confiscou a poupança de toda uma nação para baixar a inflação. Há exatamente quinze anos. Assim, até a avó da minha irmã faria. Com poder nas mãos, qualquer um faz o que quer, para o bem ou para o mal. Infelizmente, no Brasil, quem tem o poder só faz para o mal – é de se ver o estado deplorável em que se encontra o País, para jogar toda a culpa nos governantes. A culpa é sua? Nem minha.

Quando aquela senhora garfou as economias que o povo conseguiu trabalhando, a bandidagem não tinha alternativa: dinheiro vivo, só na roleta dos ônibus. Coitados dos cobradores. O povo ficou sem dinheiro até para jogar no bicho. O restaurante Franciscano, em São Paulo, passou a vender a feijoada dos sábados à prestação. Os programas de calouros na televisão tinham filas de virar quarteirão – qualquer coisa por um tostão. No Sílvio Santos, até treinador de cachorro acrobata apareceu para tentar algum, competindo com aprendizes de cantores e cantoras. E na bancada dos jurados, em momento de lucidez, a atriz (boa atriz) Gilmara Sanches despachou o explorador. “Tira esse cara daí, Sílvio! Ele faz do coitado desse cachorro um arrimo de família! Vá trabalhar, vagabundo!”. Saíram os dois, o cão com rabo entre as pernas – do dono. Aplausos. (Para quem não se lembra a Gilmara era a ‘mãe’ do personagem Fernando, na Turma dos Sete, na TV Record, Canal 7, às sete e sete, patrocínio de Sete Vidas…)

Mas na Nova York de março de 1905 foi um pouco diferente. Veja se não é coisa de brasileiro. A notícia diz assim:

“Drama da Miséria — Uma das ruas mais freqüentadas de Nova York. Um homem esfarrapado, de cara amarela, quase se arrastando, erra na calçada. De repente, vê na pedra um pedaço de pão. Abaixa-o e apanha-o avidamente. No mesmo momento um imenso cão terra-nova precipita-se, disputando-lhe a presa. O homem defende o pão; o animal mostra os dentes. Lutam os dois — o cão e o homem rolam no chão, mas o animal vence e foge com o jantar do miserável. Algumas pessoas viram esta cena e levantam o infeliz, que perdeu os sentidos. Os transeuntes param. Contam-lhe o drama, um bom coração pede algumas esmolas, as moedas chovem de todos os lados. O pobre diabo volta a si, agradece com lagrimas de alegria e corre para a padaria…

Um policial já o prendera há quatro semanas, no momento em que, pela quinta vez numa manhã, repetira com o terra-nova a trágica cena. O cão era ensinado, representava o seu papel muito bem e os dois ‘artistas’ encenavam sucessivamente o drama nos quarteirões de Nova York, sempre com sucesso. E faziam por dia de 100 a 250 francos.”.

Pregado no poste: “Severino Cavalcante, casamento entre homossexuais de sexos diferentes você apóia?”

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