Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Será que ele é?

Se você tem mais de 50, um pouco bem mais, imagine a Lojas Americanas tomada por rapazes de calças vermelhas marcadas pelos vincos em V-8 das cuecas que guarnecem cofrinhos à mostra, ou de bermudas, sandálias havaianas, brincos, pulseiras, colares, cabelos pelos ombros, rabos de cavalo, tiaras, camisas cor-de-rosa. Ah! Mas iam tomar uma vaia! No mínimo, seriam levados pelo guarda-civil Sebastião Nascimento “lá pra cima”. (Lá pra cima ficava a cadeia da Andrade Neves.)

O delegado Lysandro Bartolo, ex-zagueirão do São Paulo, mandaria buscar os pais de um por um, onde estivessem. E chamaria todo mundo, do escrivão aos ‘cagüetes’, para vê-los, depois de um passeio pela carceragem, só para divertir os presos. Seriam enquadrados na Delegacia de Jogos e Costumes (existia isso), mas só passariam a noite no xadrez se desacatassem alguma “otoridade”. (Também existia a Delegacia de Vadiagem, mas os políticos… Deixe pra lá.)

Imagino a cara do delegado de Trânsito, o Evangelista, olhando as fatiotas… Teriam de posar para o Badan e o Niquinho, fotógrafos da Polícia Técnica. E ninguém ia saber de onde surgiu aquele pôster que amanheceu pendurado na banca do Valter.

Em compensação, hoje, num passeio por qualquer shopping da vida, quase só se vê isso. Esqueci de dizer que se um rapaz beijasse o namorado, a polícia não teria tempo de impedir o linchamento. Por isso, para todos os efeitos, naquele tempo, rapazes não se beijavam em público nem tinham namorado – muito menos em Campinas.

Semana passada, depois de meses, tive de ir a um shopping – aquele ar-condicionado, que não sei quando foi desinfetado pela última vez, seca o zóio, entope o nariz, tapa a goela… Um inferno. Só olhei, não comentei nada. Domingo pela manhã, peguei a repórter Wilma Gazques e ela me disse que tudo o que eu vi, eu vi, mesmo. “É a tendência, está em todos os desfiles.” Como a Wilma sabe tudo – já leu como ela escreve com segurança? –, estou certo de que no próximo verão, veremos o encontro triunfal do cós com a barra, profetizado pelo filósofo Edgard Salvador Figueiredo, quando surgiu a minissaia.

No shopping, semana passada, parece que quase todas as mulheres não quiseram nem saber em que ano nasceram ou quanto pesam: foram todas de shortinho às compras. Às vezes fica bonito. Mas vamos fazer um acordo: no verão que vem, quem quiser ir sem shortinho, pra cumprir a profecia do Edgard, favor olhar antes para o RG e para o ponteiro da balança.

Pregado no poste: “Brasília rima com quadrilha?”

 

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