Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Será que cala?

Entre simpatias e crendices, já vi coisas do “arco da velha”. Aliás, onde fica o tal “arco da velha”? Algumas dão certo, outras matam. Por exemplo: não sei por que nem como, mas colocar um fio de linha na testa de um bebê faz passar o soluço. Passa, mesmo. Outra que me intriga é colocar ovo na janela para passar a chuva ou para não chover. Não é que dá certo? Essa é macabra: esparramar gema de ovo sobre a barriga de um doente que está para morrer. “Dá força para ele conseguir se apagar”, dizem. Vi e aconteceu essa “eutanásia cabocla”.

Outra de “cabo de esquadra” (onde fica o cabo da esquadra?): num fio de linha vermelha, dar tantos nós quantas verrugas o “paciente” tiver esparramadas pelo corpo. Coloque o fio cheio de nós sob um vaso de flores. À medida em que a linha apodrece, as verrugas se vão desmanchando. O ritual tem de ser acompanhado de uma oração, mas não sei qual nem o nome do santo.

O leite que escorre daquele arbusto chamado “leiteiro”, comum no Pontal do Paranapanema, cura picada de cascavel. Melhor dizendo: corta o efeito do veneneno da cobra. E não é que corta? Sabedoria que vem dos índios. Uma cientista da USP resolveu pagar para ver e confirmou. Só que em vez de aplicar o leite como emplastro em cima da picada, com fazem os índios, a bióloga fez do leite um extrato inejtável. Cura!

Já ouvi falar que colocar uma aliança aquecida no olho é bom para sarar do terçol. Mas cuidado para não queimar a vista. Se estiver com medo, há outro remédio pra isso: esfregar o rabo do gato no “zóio”. Há exageros, como aquele de misturar fumo picado e teia de aranha com xixi de gente para curar corte no pé. É melhor tomar a vacina contra o tétano ou usar aquele “pó pa tapá taio”, que a Sandy e o Júnior cantam por aí.

Outra infalível. Aconteceu comigo. Nada de a catapora (ou era sarampo?) desabrochar de vez. Vestiram em mim uma roupa de lã vermelha, em contato direto com o corpo. Estourou tudo, da noite pro dia. Mais uma: não sei se foi para curar bronquite ou tosse comprida. Durante 40 noites, ponha um jaboti dentro de uma caixa de sapato e coloque debaixo da cama onde dorme o doente. Dizem que é batata! Também não sei se o coitado do bicho “pega” a doença.

Tem medo de ficar com diarréia ou xixi solto quando sai na rua? É terrível, né? Principalmente quando não aparece um lugar confiável para se “salvar”. Existe uma semente, chamada olho de cabra (vermelha e preta, como a camisa do Flamengo), que é tiro e queda. Ande com ela na bolsa ou no bolso. Por via das dúvidas, não me separo dela de jeito nenhum. Faz tanto tempo, que já está preta e branca, como a camisa da Ponte.

Fiquei sabendo de uma ontem, que pode ser de grande utilidade para toda a Nação. Crença de caboclo, também. “Num faia”, eles garantem. Se uma criança demora para começar a falar, a solução, veja só, é enfiar na boca do coitado um pintinho (atenção, estou falando do filhote da galinha!), até ele piar, na garganta da criança. Deve ser um negócio pavoroso. Mas será que se a gente enfiar um pintinho morto (insisto, filhote da galinha!) na garganta de um político, ele não se calará para sempre?

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