Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Ser mãe é rezar no Paraíso

Uma vez, quando as notícias policiais saíam na última página do “Correio Popular” (Há quanto tempo, Toninho De Júlio? Mussolini ainda usava cabelo chuca-chuca.), o editor, distraído, colocou títulos que eram autênticas lápides: “Correu menos do que o touro”; “Caiu da bicicleta”; “O trem não apitou”; “Havia uma bala no tambor”; “O marido chegou antes”; “A piscina estava vazia”; “A jaula ficou aberta”. Todas publicadas num dia só, sobre fatos do País inteiro. Divertido, não fosse trágico.

Aqui em Ribeirão Preto, dia desses, o homem que cuida das notas de falecimento do jornal ‘O Diário’ mandou ver: “Faleceu ontem o menino fulano de tal, com cinco anos, solteiro, sem filhos…”. Fora as escorregadas de noticiar a morte de quem não morreu, como a Agence France Presse, que matou o Leonel Brizola, há uns 25 anos, e o Papa João 23, cinco dias antes. O ‘Estadão’, também sem querer, disse que o doutor Paulo Machado Carvalho havia morrido, enquanto o “Marechal da Vitória” vendia saúde. A ‘Folha’ publicou anúncio da missa do Sétimo Dia do coronel Erasmo Dias, aquele, que dá dor no corpo só de ouvir seu nome.

Na Internet, há uma página séria e descontraída, ‘funerariaonline’, que trata com leveza esse assunto pesado. Tem até a famosa lista de lápides, devidamente atualizada: Paraquedista: ”Não abriu”; Colecionador: ”Saí de catálogo”; Ufólogo: ”Fui abduzido”; Farmacêutico: ”Dosagem errada”; Médico: ”Sofri efeito colateral”; Teólogo: ”Fui resolver pessoalmente uma dúvida”; Diarista: ”Amanhã não venho”; Telefonista: ”No momento, não posso atender”. Mais estas, do (bom) Edson Aran: Baiano: “Finalmente vou descobrir se Caetano Veloso existe mesmo”; Encanador: “Aqui gás”; Jangadeiro diabético: “Foi doce morrer no mar”; Latifundiário: “Invasores serão expulsos à bala”; Lobista: “Tudo bem. Conheço um cara que é amigo de um primo de Deus”; Invasor: “Mortos, fora do cemitério! Terra para quem trabalha!”.

Semana passada, porém, três filhos confessaram publicamente que não conseguem viver sem o trabalho da mãe. Vejam o anúncio que puseram no ‘Estadão’, lamentando a morte da pranteada:

“’Rezo por todos’. Era o que você repetia incessantemente. Agora, mamã (sic), você continuará rezando por nós, lançando-nos inúmeras graças em nosso Pai Eterno. Mãos à obra, querida mamã (sic)! Seus filhos muito amados…”

Vão abusar da bondade da mãe lá…

Pregado no poste: “Lula cumpre o que não promete e promete o que não cumpre?”

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