Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Ser bugrina é…

Chega uma bronca do Carlito Milanês, diretor do Guarani na campanha do Campeonato Nacional de 1978 (antes de Cristo?), porque nada escrevi sobre a subida para a série A-1. Ele se exilou em sua pousada Marambaia, no Arraial d’Ajuda, e os demais bugrinos aqui ficaram a ouvir impropérios e chistes porque diretorias passada trocaram o campo pelo tapetão. Pedi socorro a uma bugrina brilhante e empedernida, Regina Trinca, que escreve por mim. É casada com o ponte-pretano Geraldo Trinca. Da sala de seu apartamento, a paisagem que descortina é o Brinco de Ouro. (Dizem que ele nunca chegou à sacada…) Ficou assim:

“Moacyr,

Já que você selou os lábios, e, aposentou a caneta, ou melhor, o teclado, quando o assunto é o nosso Guarani, resolvi ser mãe à moda antiga e lhe puxar as orelhas, para sacudir o sentimento verde-branco, que sei, ainda, existe em você.

Ser bugrino, não é fácil; assim como não é fácil torcer pra time nenhum, pois todos ora estão por cima, ora lá embaixo. Ser bugrina, então, com um marido pontepretano, é nunca perder a linha na derrota e comemorar discretamente a subida, já que ele, o marido, tentou “secar” a vitória e não conseguiu; é mudar para um apartamento em que a vista principal é o Brinco de Ouro da Princesa, e, assistir aos jogos da sacada.

Aqui vai minha homenagem a alguns bugrinos, amigos, que mesmo num futebol de negociatas, poder e dinheiro, ainda torcem com o coração.

Ser bugrino é nem sempre saber o nome dos jogadores, mas mesmo assim torcer, como o dr. Marcus e seo Júlio Lains; é, num mundo predominantemente masculino, entender de futebol, ir ao campo e torcer muito como a Rebeca Signorelli Miguel; é acreditar no santo de devoção e nele depositar toda a esperança, como o Nelson Pilot; é enfrentar chuva, frio e muita estrada em cima de uma moto, como o Marcelo do Bar do Sho; é mandar torpedinhos para o celular dos pontepretanos, quando o time ganha, como o Roberto Fakiani, o Faka; é estar sempre bem- humorado, “na vitória ou na derrota”, como o Luizinho Gonzaga 1001 e o José Modonezzi Filho; é chegar ao trabalho cantarolando o hino do Bugre, como o Eduardo Rega; é se divertir com mensagens e brincadeiras dos amigos, como o Marco Braz; é torcer com a família toda, como o Paulo Cruvinel; é nunca perder a paciência com a gozação dos pontepretanos, como o Geraldo Ferreira Moraes Junior; é morar a centenas quilômetros, em Arraial d’Ajuda, e, não se esquecer do time do coração, como o  Carlos Milanês; enfim, é se emocionar com o grito forte da torcida no tobogã: “Vamos subir Bugre!!! Vamos subir Bugre!!!”, e… Subiu!”

Pregado no poste: “Enquanto os outros têm hino, o Guarani tem ópera”

 

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