Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Sem eles, com eles

Outro dia, um repórter de rádio aqui de Ribeirão Preto chamou os bombeiros e, no ar, bradou: “Sargento! Apareceu uma anta nadando aqui no córrego, na frente da Rodoviária! Vocês não vêm recolher esse bicho?!” A resposta foi uma lição: “Você gostaria que alguém chamasse os bombeiros para tirar você da sua casa? Essa anta está no lugar dela: um lugar cheio de água e com mato em volta.”
Em Campinas, apareceram um gavião-carijó, com as asas quebradas, coitado, numa casa da Chácara da Barra, e um sagüi, que vivia “ilhado”, no Balão da Bela Vista. Nem desconfio de como sejam essa chácara e esse balão. Quando deixei a cidade, não havia chácara, nem barra, nem balão, mas a vista, pelo menos, era bela.
Os dois bichinhos foram salvos por pessoas que (ainda) reconhecem a importância dos animais para os homens – enquanto os bombeiros, a polícia florestal e a turma do Bosque batiam cabeça, um jogando pra cima do outro a obrigação que tinham de cumprir. Nada a estranhar, o Brasil está assim.
O que mais espanta é a atitude dos bombeiros (eles não eram assim), corporação das mais dignas e confiáveis, livrando-se da missão com o argumento de que só atendem se os bichos estiverem colocando em risco a população. E se a população coloca em risco a vida dos animais, como acontece todo dia? São tantos os “especialistas” que, logo, logo, teremos uma corporação dedicada ao salvamento de cada espécie de animal – o encarregado dos mosquitos não se incomodará com pernilongos e será mais fácil justificar a omissão dizendo “tira esse bicho de cima de mim.”. E se o Bosque não tem viatura nem equipamentos adequados, a culpa é do prefeito.
Ainda bem que existe gente como o produtor rural Manuel José Pace, que nem foi trabalhar para cuidar do gavião, e a bióloga Germana Barata e a comerciária Érika Prado, que salvaram o sagüi. Eles têm sensibilidade e descobriram que neste mundo o intruso é o homem. Pare e pense: se o homem não vivesse aqui, as plantas e os bichos viveriam em paz e harmonia. Num mundo sem animais e vegetais, o homem nem nasceria. Se estamos aqui, somos visitas explorando um mundo que não é nosso. Portanto, educação e respeito com os animais e as matas, para a nossa sobrevivência.
Pregado no poste: “Políticos são convenientes ou coniventes?”

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