Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Sem chegada

Os Correios continuam os mesmos de sempre: atrasados, para honrar sua condição de empresa estatal. Passa dias e dias sem dar sinal e, de repente, o coitado do carteiro chega com um pacote imenso a ferir-lhe as costas, cheio de exemplares do Correio Popular. Agora, foram sete de uma vez, que me chegaram na sexta-feira. O mais recente, da terça-feira. Mal dá tempo de ler. Perdi a conta dos que nunca foram entregues. Como o País está indo para o buraco, é justo que está estatal o acompanhe. Se o  Guarani for campeão (triste ilusão), só vou saber os detalhes dez dias depois. O resultado da eleição não me interessa: não muda nada — são todos iguais. Mas as notícias do dia a dia da nossa terra fazem falta. Mas com um serviço de Correios desses, vamos viver no atraso.

Eles são capazes de argumentar que no mundo inteiro é assim. “Afinal, a notícia da morte de Napoleão Bonaparte levou quinze dias para chegar a Londres. Na China, ainda não sabem que o homem chegou à Lua e os cubanos nem conhecem (até hoje) lista telefônica, máquinas copiadoras ou correspondência sem censura (quando chega ao destinatário).” Não é brincadeira: há jornais que levam mais tempo de Campinas a Ribeirão Preto do que a carta de Pero Vaz Caminha levou para chegar às mãos de dom Manuel, o “venturoso”. Vão dizer lá nos Correios que a carta do escrivão da Armada de Pedro Álvares Cabral foi para Lisboa numa linha direta de navio. Então, fico na dúvida: será que o carteiro vem a pé para cá, parando de cidade em cidade? Coitado.

Aí, empilham-se os jornais por ordem de data, emendam-se as páginas dos que chegam rasgados e a leitura é rápida sobre as manchetes das primeiras páginas, forçando conclusões apressadas.

“Empresas investem US$ 6 bilhões na região”: e depois vão sortear os futuros desempregados. Como fez aquela “senhora teuta” ?

“PT pregará voto nulo no segundo turno”: aceitariam uma campanha dessas se o seu candidato estivesse na disputa? O Partido Nazista era assim: Hitler ou ninguém. Deu no que deu.

“Consumidor fica mais de seis horas na fila do telefone”: Quando conseguir um, ficará outras seis para obter uma ligação.

“Usina vai produzir açúcar que não engorda”: e quando vão inventar a ginástica que não emagrece. Quem diria, pé de cana virou Suita.

“Nasce o filho de Letícia Spiller”, “Nasce o filho de Madonna”: quando o seu filho nasceu, o parto foi notícia de primeira página ?

“Suposta ata ligaria Chico à base quercista”: será que é suposta, mesmo?

“Biquíni chega aos 50 anos em boa forma”: o biquíni ou a garota da capa?

“Jovens disputam vaga no McDonald’s”: fui ver os números e são 250 candidatos para 82 vagas. O Brasil chegou a esse ponto — há mais vagas para os jovens deste País num balcão de lanchonete do que na universidade. Tanto as universidades como o McDonald’s exigem segundo grau dos estudantes. Este não é o “país do futuro”, com todos atrás de um balcão a vendê-lo?

“Corpo de bebê fica 24 horas desaparecido”: o corpo foi encontrado, mas o responsável pela covardia e crueldade continuará desconhecido.

“DCE da Puccamp rejeita o provão”: que tal aplicar, também, um teste de competência e aptidão nos governantes? Pode acontecer um fato inusitado: todos se classificarem em último lugar.

PS: E se o IBGE informar que a população  de Campinas é zero ? Não fica mais barato para quem paga imposto?

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