Se Jerimunda falasse
Ela não nasceu dez mil anos atrás, mas não existe nada nestas Campinas que ela não saiba demais. Jerimunda, por exemplo, sabe quem mandou matar seo Toninho e quem roubou os trilhos dos bondes da cidade.
Jerimunda não fala sobre o que ouve por aí. Ela só conta o que vê. Por exemplo: porque o barão Geraldo de Resende se matou – dizem que foi tomando um copo de veneno que estava em cima do piano da sede fazenda — daí a música (incrível: modinha infantil que canta suicídio de criança). Foi ela que me contou: o diplomata César Bierrenbach também se matou, porque a filha do chefe, barão do Rio Branco, não lhe dava bola.
Jerimunda passava pelo descampado (hoje atrás do Mercadão) e viu o matador que deu onze punhaladas na mãe do maestro Carlos Gomes. Ele tinha oito anos. O assassino estava a mando da família do rico amante de Bibiana. Portanto, não foi o enciumado marido Maneco Músico, o vilão da história. Naquela mesma hora, Jerimunda e Maneco jogavam xadrez no Cultura.
Contei “trudia” que o legendário piloto Chico Landi inaugurou a saga dos patrocínios nas provas de Fórmula Um – colando o selo da campineira Cerveja Mossoró em sua baratinha. Jerimunda ligou: “Chico foi motorista de táxi em Campinas, sabia?”
Jerimunda sabe quem foi o “bandido mascarado”, que aterrorizou a cidade no começo dos anos 60s. Jerimunda conheceu a negra Rosaura, que trabalhava para a família Krug, nos meados do século 19. Rosaura, comprada em Itu, fora expulsa da Corte, quando d. Pedro I abdicou. Era filha natural do primeiro imperador. Será que hoje campineiros tratariam melhor uma princesa negra? Já pensou que bonito?: “Sua Alteza Real Sereníssima Princesa Rosaura de Bragança, Bourbon, Itu e… Campinas”.
Jerimunda sabe quem roubou aqueles 360 quilos de cocaína que estavam sob a guarda da polícia de Campinas e conhece o nome dos que cheiraram, se picaram e traficaram aquele mundo de pó. Ela viu onde estão luminárias e o mármore do Teatro Municipal. Sabe até quem ganhou com sua demolição. Quem sabotou a reforma do teto do Cine Rink, que desabou, matou 25 e feriu 400 em setembro de 1951? Pergunte para a ela.
Se você quiser desvendar outros mistérios de Campinas, mande e-mail pra cá. Quem sabe a Jerimunda…
Pregado no poste: “Jerimunda mostra a verdade.”