Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Se Jerimunda falasse

Ela não nasceu dez mil anos atrás, mas não existe nada nestas Campinas que ela não saiba demais. Jerimunda, por exemplo, sabe quem mandou matar seo Toninho e quem roubou os trilhos dos bondes da cidade.

Jerimunda não fala sobre o que ouve por aí. Ela só conta o que vê. Por exemplo: porque o barão Geraldo de Resende se matou – dizem que foi tomando um copo de veneno que estava em cima do piano da sede fazenda — daí a música (incrível: modinha infantil que canta suicídio de criança). Foi ela que me contou: o diplomata César Bierrenbach também se matou, porque a filha do chefe, barão do Rio Branco, não lhe dava bola.

Jerimunda passava pelo descampado (hoje atrás do Mercadão) e viu o matador que deu onze punhaladas na mãe do maestro Carlos Gomes. Ele tinha oito anos. O assassino estava a mando da família do rico amante de Bibiana. Portanto, não foi o enciumado marido Maneco Músico, o vilão da história. Naquela mesma hora, Jerimunda e Maneco jogavam xadrez no Cultura.

Contei “trudia” que o legendário piloto Chico Landi inaugurou a saga dos patrocínios nas provas de Fórmula Um – colando o selo da campineira Cerveja Mossoró em sua baratinha. Jerimunda ligou: “Chico foi motorista de táxi em Campinas, sabia?”

Jerimunda sabe quem foi o “bandido mascarado”, que aterrorizou a cidade no começo dos anos 60s. Jerimunda conheceu a negra Rosaura, que trabalhava para a família Krug, nos meados do século 19. Rosaura, comprada em Itu, fora expulsa da Corte, quando d. Pedro I abdicou. Era filha natural do primeiro imperador. Será que hoje campineiros tratariam melhor uma princesa negra? Já pensou que bonito?: “Sua Alteza Real Sereníssima Princesa Rosaura de Bragança, Bourbon, Itu e… Campinas”.

Jerimunda sabe quem roubou aqueles 360 quilos de cocaína que estavam sob a guarda da polícia de Campinas e conhece o nome dos que cheiraram, se picaram e traficaram aquele mundo de pó. Ela viu onde estão luminárias e o mármore do Teatro Municipal. Sabe até quem ganhou com sua demolição. Quem sabotou a reforma do teto do Cine Rink, que desabou, matou 25 e feriu 400 em setembro de 1951? Pergunte para a ela.

Se você quiser desvendar outros mistérios de Campinas, mande e-mail pra cá. Quem sabe a Jerimunda…

Pregado no poste: “Jerimunda mostra a verdade.”

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