Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Saudosista, eu?

Até quem vive em Campinas tem saudade de Campinas. Olhe só o lamento do Luís Guilherme Rodrigues:

“Lembra das saias cinzas dos uniformes escolares? E das meias três quartos com sapato de amarrar? Dos desfiles de Sete de Setembro? Das disputas entre as fanfarras do Culto à Ciência e do Bento Quirino, o velho Bentão? Dos doces da Senzala? Do Largo do Rosário e sua feirinha hippie, nas manhãs de sábado — hippie de verdade, de artesãos trabalhando à sua frente? Do Hotel Terminus e sua doçaria, dos papos-de-anjo e baba-de-moça? Da Casa das Vitaminas, na General Osório: era dizer o número e vinha a saudável vitamina de frutas cortadas na hora.

Lembra dos cines Jequitibá, Brasília, Regente e Windsor, onde se dividia a turma que matava aula no Culto à Ciência? O bonde descia a Glicério no contra-fluxo entre a Treze e a General Osório. E os cines Rex e São José? O Parque Industrial, no limite da cidade, era um ‘longínquo arrabalde’. O Taquaral, com suas ruas de terra e casas distantes umas das outras — das meio suspeitas, homens saiam furtivamente. A Galeria Barão Velha era o point da juventude de Raul Seixas e Beatles. E na Trabulsi, ficava a Radio Brasil. O Luciano do Valle era magro e o Lombardi Neto mandava abraços da ‘Hora do trabalhador’, na Educadora. E os “Degraus do Sucessos” na Cultura, domingo de manhã?

Só existia o Cemitério da Saudade pra passear no Dia de Finados. A Quaresma, tão longa, não acabava mais. Havia procissões na Vila Industrial. Nas ruas do Cambuí, a sombra dos alecrins escondia beijos roubados. Lembra dos Doces Campineira lá na Vila Estanislau? E do pirolito Zorro?

Lembra da Livraria Anchieta, da Dona Aída, logo atrás do teatro, na 13 de Maio? E do teatro, tão maldosamente demolido? Comer nas Lojas Americanas era o máximo de modernidade. E do Bonde para Souzas? Uma viagem que nunca fiz… era tão longe.

O loteamento da Nova Campinas era um ‘barco furado’; quem ia morar lá? E das estações de trem? Da Sorocabana e da Mogiana… Das baldeações, do guarda-trem de luvas e impecáveis no uniforme de gabardine inglês.

Fantasmas assombram românticos que insistem em não se siliconizar, em não ser malhados nem sarados.”

Pregado no poste: “Quem faz ‘carreira em Campinas?”

E-mail: jequiti@zaz.com.br – desativado

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