Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Sai, tentação!

 

Esta é a história de como o fanatismo religioso e, por conseguinte, a ignorância, levam à sonegação de impostos no Brasil e promovem o contrabando. Pior, alguns sonegadores e contrabandistas descobriram a manha e se aproveitam.
Mais prejuízos, desta vez na música. Baden Powell, violonista dos violonistas, deixou de cantar “Samba da Benção”, para não entoar “Saravá!”. A nova “religião” dele não permitia e nós ficamos sem a benção desse samba maior. Lá no Céu, alguém está puxando as orelhas do Baden. Roberto Carlos, também. Aqui na Terra. Não manda mais ninguém para o inferno nem aceita que seus discos tenham uma faixa “demo”. Não falaram para ele que esse “demo” quer dizer “demonstração” e não tem nada a ver com o demônio? “Vá de retro, Satanás!”.
Agora o contrabando e a sonegação. Não entendo nada disso, mas dizem que existe um negócio chamado Unix, sistema operacional do computador, concorrente do Windows. Nunca vi, mas o símbolo do tal de Unix é um diabinho, “deamon”, em inglês. Mas lá para eles, esse “deamon” é o demônio do bem, de origem na mitologia celta, “o diabinho que faz tudo acontecer”. Certo?
Pois bem. Quando esses CDs do Unix chegam à alfândega no Brasil, é um Deus nos acuda. Se o fiscal é um religioso daqueles fanáticos, de pedir dízimo até para mendigo, ele se livra da mercadoria na hora, libera rapidinho, nem toca na dita cuja. É o medo do demoninho. E se não for religioso, tira o decalque do diabinho estampado na caixa do CD.
Agora, o melhor da história. Existe em Campinas um importante centro de pesquisas – e bota importante nisso –, daqueles parecidos com o cenário que Roger Vadin armou para Jane Fonda brilhar em “Barbarella”. Ou do “Perdidos no espaço”, “2001, uma prosopopéia no espaço”, “Guerra nas estrelas”… Por aí. Só vi “Barbarella”, e os outros, por fotografias na porta do cinema. Salões imensos cheios de computadores, telas no teto, no chão, nas paredes, tudo conectado com satélites mil. Ficam ligados 24 horas por dia e o “descanso” dessas telas é o tal do diabinho do Unix, pulando.
Só que o vigia desse centro de pesquisas é um religioso fanático. Por causa dos diabinhos pulando, o dito cujo jamais entrou na sala dos computadores. No século 21, em um reduto de cientistas.
Pregado no poste: “Político é prolixo ou pro lixo?”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *